
Shariff liderou na cadeia rede que fez fortuna em burlas por telemóvel
Filipe Pinto/Global Imagens/Arquivo
Allan Shariff, um conhecido criminoso que chegou a figurar na lista dos mais procurados do FBI, foi acusado pelo Ministério Público (MP) de ter liderado uma associação criminosa a partir da cadeia de Vale de Judeus, onde cumpria pena, lesando dezenas de empresas do Norte ao Sul do país, em quase 800 mil euros, durante a pandemia, com burlas feitas usando apenas telemóveis.
O grupo incluía mais três reclusos e outras 16 pessoas no exterior da prisão que ajudavam no esquema. Shariff está a cumprir 17 anos de prisão e já foi condenado 11 vezes desde 2006.
Segundo a acusação do MP, os crimes aconteceram entre março e novembro de 2020, em plena pandemia, aproveitando o grupo os condicionamentos desse período. A associação criminosa montada por Allan Sharif - crime pelo qual está acusado - contava com os também reclusos José Coelho, João Gaspar e Pedro Soares, bem como outras 16 pessoas que, no exterior, asseguravam a logística das burlas e algumas operações de branqueamento dos lucros obtidos com as vigarices.
Principalmente Shariff (atualmente preso na cadeia de alta segurança de Monsanto e alegadamente sem acesso a telemóveis) mas também os outros três cúmplices encarcerados faziam-se passar por gestores de empresas como a Mota Engil, a Autoeuropa, a Pestana Hotéis e a Visabeira para realizar encomendas a fornecedores em todo o país.
Contratava transportadoras
Depois, outros elementos do grupo intitulando-se funcionários das mesmas empresas, enviavam comprovativos falsos de pagamento aos burlados. As encomendas eram feitas ao fim de semana, por forma a dificultar o controlo bancário das ordens de pagamento, alegando urgência na recolha das mercadorias.
Allan Shariff contratava empresas de transporte para ir buscar no próprio dia as mercadorias encomendadas às empresas lesadas e deixá-las em armazéns que a rede tinha na zona de Lisboa e margem sul do Tejo. Os bens eram depois revendidos pelo grupo, diretamente ou em sites especializados. Um dos arguidos, proprietário de um estabelecimento comercial na Amadora, está acusado de recetação. Comprava telemóveis ao grupo a metade do preço de mercado e revendia-os. Nas várias transações descritas na acusação, o esquema era o mesmo. Allan entrava em contacto telefónico com empresas para adquirir com urgência vários bens - eletrodomésticos, bicicletas, telemóveis, trotinetas, entre muitas outras coisas de revenda garantida.
Muitas das burlas levadas a cabo pelo grupo de Allan Shariff foram efetuadas através de plataformas de pagamento como o MBWay ou MBPhone. Por exemplo, o próprio Shariff chegou a reservar mesas em restaurantes de Lisboa em nome de empresas que dizia representar. Pedia aos funcionários para pagar usando aquelas plataformas, convencendo-os a irem a um multibanco e a inserirem dados que lhes permitiam aceder às contas bancárias das vítimas e movimentar somas avultadas em compras ou transferências.
Ao todo, são contabilizados 55 crimes de burla qualificada e informática, extorsão, falsificação de documentos e falsidade informática. O MP calcula o valor das fraudes em 789 672,90 euros e exige o dinheiro aos arguidos.

