Um sócio do F. C. Porto contou esta manhã de terça-feira no Tribunal de São João Novo, no Porto, que foi agredido na Assembleia Geral Extraordinária (AGE) do clube por não ter cantado em apoio a Pinto da Costa.
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Carlos, 62 anos, sentiu “medo” e lamentou que quem os devia proteger - a segurança - “não estava a proteger”. Carlos partiu duas costelas e também a mulher e o filho foram agredidos. Já um jornalista testemunhou insultos e ameaças por parte de Vítor Catão e admitiu que, com receio de ser agredido, teve de se ir embora sem fazer a reportagem pretendida.
Carlos explicou que se sentou, com a mulher e o filho, na bancada Norte. Para o sócio “quem não cantasse “Pinto da Costa, Olé”, estava a ser sinalizado” para ser alvo de provocações e até agressões. A dado momento, “Apareceu um sujeito do nada, a dizer que estávamos a cuspir no prato que nos deu de comer e pregou uma bofetada no meu filho. Eu respondi e reagi com um soco”.
Carlos já tinha fixado o agressor do filho na bancada central. “Estava com uma perna dentro do muro e outra fora do muro. Não achei uma posição normal. Estávamos a conversar e, de repente, ele aparece à nossa frente.”, afirmou, referindo-se a Vítor Aleixo, pai. Carlos garantiu que nunca ninguém do F. C. Porto lhe deu de comer. “Se calhar o Pinto da Costa deu de comer a esse sujeito”, acrescentou.
Entretanto apareceu mais gente junto da família. Carlos, a mulher e o filho estavam a sair, mas Carlos foi agredido e empurrado. Caiu pelas escadas abaixo e ficou preso atrás de umas cadeiras, com o filho a tentar protegê-lo. Quem o terá agredido “covardemente” nas escadas e depois ponteado o filho foi Aleixo, filho.“A minha mulher também levou porque ficou com umas negras”, contou. Carlos partiu duas costelas e confessou que sentiu medo. “Nunca me imaginei passar por uma coisa daquelas. Reformado e com 62 anos ainda me custa ver aqueles vídeos. Senti-me humilhado”, confessou.
No final do depoimento, os dois Aleixo fizeram questão de pedir desculpa pessoalmente a Carlos. Além de pedir desculpa, Bruno Aleixo mostrou-se “preparado para arcar com todas as despesas dos danos causados”. Também Vítor Aleixo fez questão de pedir desculpa a toda a família. “Foi um ato que não devia ter acontecido. Somos todos sócios”, lamentou.
Carlos não aceitou as desculpas dos Aleixo. “As desculpas não se pedem, evitam-se”, justificou, adiantando que não desistiria da queixa contra ambos, caso tal fosse possível.
Super Dragões fizeram "túnel para intimidar quem entrasse no Arena"
O filho de Carlos, João Pedro, de 29 anos, recordou que, à entrada do Dragão Arena, Fernando e Sandra Madureira e outros elementos dos Super Dragões faziam uma espécie de túnel. “Havia espaço, mas quem entrasse tinha obrigatoriamente de passar pelo meio. Fiquei logo com a ideia que era para avaliar, marcar uma posição e intimidar as pessoas”, afirmou.
Após entrar, João Pedro foi às casas de banho. “Ouvi a voz de Fernando Madureira a dizer às pessoas que estavam sentadas na bancada sul para se dispersarem ou espalharem pelas outras bancadas”, recordou. “Estava lá para ouvir, não para cantar ou fazer barulho. Deu para perceber que quem não cantasse, parecia que era uma “persona non grata”, disse. A seguir a Pinto da Costa começam as confusões. Viu garrafas no ar e Fernando Madureira a descer a bancada “chateado e a mandar vir com qualquer coisa”.
“Do nada, vejo outras pessoas a virem atrás dele” e Vìtor Aleixo saltar para o ringue, atravessar o pavilhão e insultá-lo. “Ele dá-me uma chapada e o meu pai dá-lhe um soco no Vítor Aleixo. Um outro sujeito dá um soco na cabeça do meu pai e outro agarra na minha mãe. Vejo o Aleixo filho a descer as escadas, mandar um soco ao meu pai que cai desamparado.Vejo o meu pai a levar pontapés na cabeça e nas costas. Vou para lá tentar defende-lo e vejo Bruno a continuar a dar-lhe pontapés. Só depois é que aparecem dois seguranças. O Bruno Aleixo sobe e nós descemos para o ringue onde assistiram o meu pai”.
João Pedro teve medo de sair e ligou para o 112. “Disseram que era impossível ter lá polícia e que tinha de ser a pedido de alguém”, apontou. “Passado muito tempo e alguma insistência surgiu o motorista do presidente que se ofereceu para dar-nos boleia no seu carro pessoal”, explicou.
O sócio não tem dúvidas de que “estava tudo feito de forma a fazer crer a quem quisesse ser contra os estatutos que não tinha esse direito. Estavam a ser expulsos sócios do pavilhão e a Assembleia continuava. Parecia que estavam a cometer um crime só por querer votar”, descreveu. Desta vez, apenas Aleixo pai pediu desculpas ao sócio. “Eu não fiz nada”, explicou o filho. Tal como o pai, João Pedro não aceitaria retirar a queixa.
Jornalista foi embora sem fazer reportagem
No início da sessão desta quinta-feira, um jornalista relatou que no dia da AGE, Vítor Catão, veio sozinho, abordou o carro descaracterizado da estação televisiva e insultou e ameaçou um repórter de imagem que se encontrava no interior. “Eu estava no passeio, o Vitor terá reconhecido o meu colega e foi na direção do carro. Nunca se dirigiu a mim, como eu nunca me dirigi a ele”, declarou Paulo Jorge Duarte. Já o seu colega da CMtv foi alvo de vários insultos e ameaças para que se fosse embora.
O jornalista disse que, por três vezes, Vítor Catão começou a chamar adeptos para agredirem os jornalistas e baterem no carro. Por três vezes, adeptos portistas, alguns dos quais elementos dos Super Dragões, interpuseram-se, pediram a Catão que parasse e retiraram-no do local. “Um deles, depois, aconselhou-me a sair dali momentaneamente na expectativa que o Vítor entrasse e, depois, já pudéssemos regressar”, afirmou Paulo Jorge.
A equipa de reportagem saiu e regressou passado uma hora. Quando se preparavam para retirar o equipamento da bagageira, um jovem foi ter com eles e disse: “Já cá estão outra vez!? Vou já chamá-lo”. O jornalista preferiu não ficar à espera de ver quem ele ia chamar e foi-se embora sem fazer a reportagem pretendida.
Questionado sobre se, não os conhecendo, conseguia distinguir elementos dos Super Dragões de adeptos portistas, Paulo Jorge disse que “era impossível” e que “inclusivamente quem usa camisolas dos Super Dragões” pode não pertencer à claque. Vitor Catão também fez questão de pedir desculpa pessoalmente ao visado. Em resposta, o jornalista admitiu que, se fosse possível neste tipo de crimes, ponderaria desistir da queixa-crime.