Sócrates acusa Ministério Público de "investigar tudo" do PS e "encobrir tudo" do PSD
O ex-primeiro-ministro José Sócrates acusa o Ministério Público (MP) de tratar de modo diferente PS e PSD. "Contra os governos socialistas, toda a violência; contra os governos do PSD, toda a compreensão", atira o antigo governante num artigo de opinião.
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José Sócrates salienta que, em novembro de2023, o MP abriu um processo-crime contra António Costa "com fundamentos que ainda hoje não se conhecem exatamente", tendo causado a demissão do primeiro-ministro, o "esfumar" da maioria absoluta e o regresso da direita ao poder. "Um golpe perfeito", considera no artigo "A crise das avenças", publicado esta segunda-feira no "Diário de Notícias".
Agora que se soube que o primeiro-ministro "recebeu avenças de grupos privados duranto todo o tempo em que exerceu funções", o MP não abriu nenhuma investigação, critica. "Não são apenas as avenças, mas a motivação política por detrás das investigações criminais: contra os Governos socialistas, toda a violência; contra os Governos do PSD, toda a compreensão", acusa o ex-primeiro ministro socialista.
José Sócrates aproveita para distinguir o caso de Luís Montenegro do de Manuel Pinho, seu ex-ministro da Economia condenado a 10 anos de prisão por corrupção passiva, fraude fiscal e branqueamento no caso EDP. Enquanto que Pinho recebeu pagamentos do BES "de trabalhos anteriores à sua entrada em funções", os pagamentos à empresa de Montenegro "resultam de trabalhos prestados durante o exercício de funções públicas", distingue Sócrates. "Manuel Pinho foi investigado, foi preso e foi condenado injustamente. Ao atual primeiro-ministro não foi aberta nenhuma investigação", frisa.
O ex-primeiro-ministro do PS, que em breve começa a ser julgado por vários crimes, recorda ainda as suspeitas, lançadas pelo Ministério Público brasileiro, sobre o eventual financiamento ilegal da campanha política do PSD por parte da construtora Odebrecht, através da obra da Barragem de Baixo-Sabor. Suspeita "concreta e definida" que "nunca foi investigada".
José Sócrates conclui que "a crise das avenças é também a crise da dupla moral das instituições penais: de um lado investiga-se tudo, do outro encobre-se tudo. O critério para distinguir uma da outra é a política."