Sócrates considera uma "vergonha para a Justiça" ter sabido do arresto pelos jornais
"Nunca vi em nenhum lugar do Mundo, alguém ser notificado que lhe querem arrestar os bens através de um jornal", disse José Sócrates, este sábado, em conferência de Imprensa.
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"Isso só envergonha a nossa Justiça e lamento muito a passividade com que o Ministério Público olha para estes procedimentos", acrescentou José Sócrates, ao reagir, em conferência de impressa no início da tarde deste sábado, a uma notícia do "Expresso", segundo a qual o Ministério Público (MP) pediu o arresto de vários imóveis e acusa o ex-primeiro ministro de ter recebido subornos de mais de 32 milhões de euros, no âmbito da "Operação Marquês".
"Os arrestos em causa não têm nenhum fundamento nem justificação", disse Sócrates. "Os prédios agora referidos nunca foram nem são minha propriedade como está amplamente provado no processo", acrescentou.
Aquele semanário garante que o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) avançou esta semana com o arresto de vários imóveis. O objetivo é garantir que as Finanças possam receber o que for determinado pelo Tribunal, como perda a favor do Estado, caso José Sócrates seja condenado.
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Sócrates voltou a negar ter tido contas na Suíça, acusando o MP de perseguição e de violar a lei. "Até que ponto de indignidade vais descer o Ministério Público. Quero recordar que os crimes de violação de segredo de justiça, são crime. Também é um abuso de autoridade, um desrespeito por um processo justo. Isso tem encontrado uma certa tolerância na sociedade portuguesa. Eu responderei a todos estes métodos que são sórdidos e que envergonham a nossa justiça", disse José Sócrates.
O "Expresso" diz que o DCIAP solicitou o arresto de três apartamentos que foram vendidos entre 2011 e 2012 pela mãe de Sócrates ao amigo e empresário Carlos Santos Silva, tido como testa de ferro do antigo primeiro-ministro. Na sequência dessa venda, Sócrates viria a receber uma transferência de 500 mil euros nas contas bancárias da mãe. Para o MP, tudo não passou de um esquema de branqueamento de capitais, para que Sócrates pudesse usar o dinheiro.
O arresto, adianta o Expresso, deu entrada na Conservatória na segunda-feira, a 2 de outubro, e engloba três apartamentos que foram vendidos entre 2011 e 2012 pela mãe de José Sócrates ao empresário Carlos Santos Silva, que está indiciado por corrupção e branqueamento de capitais e ainda uma herdade em Montemor-o-Novo, no Alentejo.
Na "Operação Marquês", José Sócrates está indiciado por corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, num processo que investiga crimes económico-financeiros e que tem 25 arguidos: 19 pessoas e seis empresas, quatro das quais do Grupo Lena.
Entre os arguidos estão Armando Vara, ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos e antigo ministro socialista, Carlos Santos Silva, empresário e amigo do ex-primeiro-ministro, Joaquim Barroca, empresário do grupo Lena, João Perna, antigo motorista de Sócrates, Paulo Lalanda de Castro, do grupo Octapharma, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava, ex-administradores da PT, Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e os empresários Diogo Gaspar Ferreira e Rui Mão de Ferro e o empresário luso-angolano Hélder Bataglia.