O Serviço SOS Pessoa Idosa registou em 2020 um aumento de 37% de processos originados por pedidos de ajuda do que em 2019, o número mais elevado desde a criação do serviço em 2014.
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Segundo dados obtidos pela agência Lusa, no ano passado, os apelos ao SOS Pessoa Idosa, linha de apoio da Fundação Bissaya Barreto a idosos vítimas de violência, levaram à constituição de 368 processos. Em 2019, registaram-se 268, o que representa um aumento de cerca de 37% relativamente a 2020. Este é o número mais elevado de processos anuais registado pelo serviço desde a sua criação em 2014.
"Temos um aumento de contactos que se pode considerar significativo. Mantiveram-se as mesmas tipologias [de violência] dos anos anteriores, mas o número de contactos aumentou. Pode haver uma relação direta com a pandemia ou com o crescimento do SOS", afirmou Marta Ferreira, assistente social do serviço.
A maioria das vítimas de violência registadas ao longo do ano são mulheres (62%) entre os 75 e os 90 anos. Os homens correspondem a 23% das vítimas, os casais a 12% e os idosos em contexto institucional a 3%. Do total de vítimas, 29% residem sós, por vezes sem rede de suporte familiar ou formal e 28% sofrem de doenças mentais.
"Temos muitas vítimas com problemas de saúde mental, nomeadamente, quadros depressivos e algumas vítimas que estão a iniciar quadros demenciais", explicou.
"Depois isto também espoleta algum cansaço do cuidador que se mistura com maus tratos. É preciso fazer uma triagem muito rigorosa daquilo que nos é denunciado para também não incorrermos no erro de considerar um denunciado como agressor", salientou.
A generalidade dos denunciados são homens (53%) e maioritariamente os agressores são os filhos das vítimas (56%), com idades entre os 40 e os 59 anos, mas também se contam entre os responsáveis pelas situações de violência, os genros ou as noras (9%), os netos (5%) e os sobrinhos (4%). Já a percentagem de denúncias relativas aos cônjuges é mais baixa do que a dos filhos, correspondendo a 11%.
Vizinhos e filhos das vítimas entre os denunciantes
Segundo as conclusões do II Congresso sobre Envelhecimento da Fundação Bissaya Barreto realizado em 2019, nalguns casos, o denunciado demonstra cansaço para com a mulher com demência ou negligência para com a dependência motora da vítima e noutros verifica-se ainda a existência de violência continuada ao longo do matrimónio.
"Temos algumas situações de violência conjugal continuada ao longo da vida, de mulheres que são vítimas há 30 ou 40 anos, desde o início do matrimónio. Mas são situações de difícil resolução porque as pessoas já têm um sistema entre elas montado que não permite atuação. E por norma, neste tipo de situação, a vítima não confirma os maus tratos", contou a assistente social.
Relativamente aos denunciantes, 71% são mulheres e apenas 19% correspondem às próprias vítimas. Entre as outras pessoas que contactam o Serviço SOS Pessoa Idosa para denunciarem situações de violência, encontram-se os vizinhos e os filhos das vítimas, que representam 17% e 16% dos denunciantes, respetivamente. Mas a maioria das vezes as pessoas optam pelo anonimato. "É raríssimo haver uma identificação do denunciante, o que dificulta a obtenção de mais informação", explicou Marta Ferreira.
Violência psicológica e negligência
A violência psicológica é a tipologia de violência mais frequentemente relatada ao serviço, chegando a 37% das denúncias recolhidas, seguida da negligência (31%), do abuso financeiro (26%), da violência física (15%), do abandono (15%), da auto-negligência (6%) e da violência institucional (5%). A maioria dos apelos que recebem são provenientes de Lisboa, Coimbra, Setúbal e Porto.
Em funcionamento há sete anos, o SOS Pessoa Idosa dedica-se a apoiar e responder a pessoas idosas que vivem em situação de violência pela primeira vez ou de forma continuada através do contacto telefónico ou presencial.
Para além das suas estratégias de intervenção próprias, procedem à sinalização dos casos de violência que lhes chegam junto das entidades competentes a operar no local, como a PSP e a GNR.