Ministério Público suíço pediu informações a Portugal sobre 25,2 milhões depositados em conta de ex-administrador da PT.
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O Ministério Público (MP) da Suíça está a investigar, desde outubro de 2016, o ex-administrador da Portugal Telecom (PT) Zeinal Bava por movimentos financeiros naquele país que constam da Operação Marquês, relacionados com um alegado suborno pago por Ricardo Salgado, antigo líder do Banco Espírito Santo (BES). Os suíços suspeitam de branqueamento de capitais.
Em causa está a origem de 25,2 milhões de euros depositados numa conta de Bava e mais tarde parcialmente devolvidos por este a Salgado. No início de outubro, a procuradoria helvética pediu informações às autoridades nacionais sobre a situação do ex-gestor na Operação Marquês e, agora, o MP português pretende que as explicações dadas pelos arguidos na Suíça, aparentemente contraditórias, sejam consideradas como prova contra ambos no processo que corre em Portugal, atualmente em fase de instrução. E já o requereu ao juiz Ivo Rosa. O ex-administrador da PT está acusado, neste caso e entre outros ilícitos, de um crime de branqueamento de capitais, um de falsificação de documento e um de corrupção passiva, os dois primeiros em coautoria com o antigo banqueiro, que também responde por corrupção ativa.
Segundo a acusação do MP, Salgado terá pagado 25,5 milhões de euros em luvas a Bava para que este beneficiasse, no exercício das suas funções na PT - de capital parcialmente público -, o Grupo Espírito Santo (GES) em dossiês como a Oferta Pública de Aquisição (OPA) da Sonae sobre a companhia e a estratégia desta no Brasil. A quantia terá sido entregue em três parcelas, entre 2007 e 2011: uma de 6,7 milhões, outra de 8,5 milhões e uma última de dez milhões. Cinco anos depois, Bava transferiu, por sua vez, 18,5 milhões de euros de uma conta sua na Suíça para uma outra da massa insolvente do GES.
Ouvidos na instrução pelo juiz Ivo Rosa, os arguidos negaram e atribuíram a transferência do dinheiro - do qual Bava teria sido fiel depositário - a um acordo para reter quadros superiores na PT (ler caixa), mas, na Suíça, as informações prestadas terão sido distintas.
"Algemas Douradas"
De acordo com o pedido de colaboração do MP suíço - anexo aos autos da Operação Marquês, consultados pelo JN -, o ex-gestor terá começado por atribuir, em 2011, a segunda parcela a mandatos de investment banking. Já em 2016, ao transferir os cerca de 18,5 milhões, terá dito que o montante correspondia ao reembolso de um empréstimo de Salgado destinado a elaborar instrumentos de fidelização em favor dos quadros da PT. A versão terá sido, porém, contrariada pelo ex-banqueiro, garantindo que em causa estavam "algemas douradas" para segurar o administrador da PT na companhia e não um empréstimo.
No documento, o MP helvético mostra ainda a sua estranheza pelo facto de o contrato que corrobora o alegado empréstimo ter sido apresentado por Bava apenas cinco meses após o reembolso do dinheiro, efetuado dois anos após o gestor abandonar a PT. Atrasos e contradições que, aliados ao processo a decorrer em Portugal, levaram a Procuradoria a suspeitar dos movimentos e abrir um inquérito por branqueamento de capitais.
O JN tentou, sem sucesso, contactar o advogado de Bava, José António Barreiros. Já o mandatário de Salgado, Francisco Proença de Carvalho, escusou-se a comentar o requerimento do MP nacional. Na última semana, decorria ainda o prazo para ambos se pronunciarem no âmbito do processo.