PJ fez buscas nos Institutos do Vinho do Porto e Madeira, Associação Comercial do Porto e Fundação para a Juventude.
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Foi por suspeitas de participação económica em negócios, corrupção e branqueamento de capitais que a Polícia Judiciária (PJ) realizou na terça-feira buscas na Associação Comercial do Porto (ACP), do Instituto do Vinho do Douro e do Porto (IVDP), da Fundação da Juventude, e do Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira (IVBAM). Em causa estão contratos de promoção e relações públicas adjudicados pelos dois institutos públicos a um grupo restrito de empresas, também alvo de buscas, e que totalizam cerca de sete milhões de euros em apenas três anos.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o inquérito do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) ainda está numa fase muito inicial e ontem não foram constituídos arguidos. A dezena de buscas realizadas pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ visaram essencialmente recolher documentos sobre contratos considerados suspeitos entre empresas e os institutos públicos. A investigação pretende saber quem efetivamente os negociou e se houve contrapartidas.
Adjudicações e concursos
Entre as empresas visadas neste inquérito estão a "Essência do Vinho", onde o atual presidente da ACP, Nuno Botelho, tem participações, e a "OPAL". São duas firmas, especialistas em marketing, que, entre 2019 e 2021, receberam milhões em adjudicações, tanto do IVDP como do IVBAM. Existem suspeitas de serem "fornecedores privilegiados", mas só a análise dos documentos apreendidos poderão confirmar as desconfianças. "Nesta fase da investigação, impõe-se a necessidade de proceder à recolha de elementos probatórios sobre os factos em causa", precisou a PJ em comunicado.
Ontem, contactado pelo JN, Gilberto Igrejas, presidente do IVDP explicou que as buscas nada tiveram a ver com a atividade direta do instituto. "Prestámos toda a colaboração e disponibilidade para apresentar todos os documentos solicitados", disse.
Já a ACP explicou que desconhece "os motivos concretos que estiveram na origem desta investigação", mas também garantiu que irá proceder "com absoluta transparência" e cooperar "abertamente com as autoridades".
A Fundação da Juventude também veio a público para garantir que as buscas nas suas instalações no Porto estiveram relacionadas com "o fornecimento de serviços à Fundação da Juventude, há vários anos, por parte de entidades terceiras, alvo de investigação".
No terreno
Juiz Ivo Rosa acompanhou buscas na Invicta
O juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal, Ivo Rosa, foi o magistrado que acompanhou as buscas ontem realizadas em várias instituições do Porto. Ao contrário do seu homólogo no "Ticão", Carlos Alexandre, que, em muitos casos, preside a operações, serão muitos raros os inquéritos em que Ivo Rosa avançou para o terreno. Duas procuradoras, uma do DCIAP de Lisboa e outra da extensão do Porto daquela unidade especial do Ministério Público, também estiveram a acompanhar a operação. Além dos institutos, das associações e das empresas, também uma sociedade de advogados foi alvo de buscas.
Pormenores
Governo colabora
O governo regional da Madeira emitiu na terça-feira um comunicado em que garante ter prestado as "informações solicitadas pelas autoridades" e ser "alheio a qualquer irregularidade".
Dez buscas
A operação de ontem previa a realização de uma dezena de buscas, em empresas e instituições do Porto, mas também da Madeira, na cidade do Funchal.
Fase inicial
A investigação pretende apurar a existência de crimes de corrupção passiva e ativa, participação económica em negócios e branqueamento e está numa fase inicial, sem arguidos.