O homem, de 22 anos, que começou esta terça-feira a ser julgado por ter tentado matar um vizinho, no Bairro de Francos, no Porto, por causa de um rumor relativo a uma "banhada" (roubo de droga) de 150 euros, ficou em silêncio no Tribunal de São João Novo.
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Na sessão que decorreu esta manhã as testemunhas ouvidas, amigos e familiares da vítima, assim como agentes da PSP e Policia Judiciária (PJ) envolvidos no caso, descreveram o atual estado desta, agora com 30 anos, como "depressivo, triste e sem objetivos".
O caso aconteceu em fevereiro do ano passado, a meio da tarde. De acordo com a acusação, gerou-se uma discussão envolvendo dois grupos. Por um lado, havia o arguido e o seu pai, que era o alvo dos rumores, e por outro, a vítima e um cunhado desta.
"Na origem desta altercação esteve um rumor relacionado com a eventual existência de uma malograda transação de pequena quantidade de estupefaciente, de valor não superior a 150 euros", em que se dizia que o pai do arguido "se apoderou do dinheiro da pessoa que pretendia comprar o estupefaciente", garante o Ministério Público.
No meio da discussão, o arguido sacou uma pistola de calibre 6.35 milímetros e disparou dois tiros contra a vítima, que foi atingida em órgãos vitais.
"As lesões resultantes da atuação do arguido implicaram o comprometimento da função locomotora do assistente, que se desloca exclusivamente em cadeira de rodas, não sendo ainda possível prever até que ponto se irá verificar alguma recuperação funcional", explica o MP.
O arguido foi detido "algumas semanas depois" dos factos na zona de Leiria, local para onde "terá ido porque a namorada dele, que entretanto deu à luz um filho dele [do arguido] vivia lá", referiu a fonte.
"Ouvi um burburinho, desci para a porta do prédio, deparei-me com berros e vejo o arguido a meter a mão atrás das costas, o meu amigo deu-lhe um pontapé, ele recuou, sacou a arma e depois ouvi dois disparos", contou uma das testemunhas, amigo da vítima e que presenciou os factos, ouvidas esta manhã.
Ao tribunal, a irmã da vítima descreveu o irmão como sendo um "rapaz alegre, desportivo, cheio de atividade" antes de ter sido atingido: "Agora tem 30 anos, provavelmente nunca voltará a andar, não poderá ser pai e está o dia todo ou numa cadeira de rodas ou deitado, dependente para tudo, de fraldas, sem projeto de vida", disse.
O julgamento continua dia 18 de abril, para apresentação de um relatório médico-legal e alegações finais.