Suspeito de burlas com carros detido dois meses após ex-mulher se atirar com os filhos ao mar
O ex-marido da bancária Raquel Godinho, que atirou o carro ao mar no Cabo Raso, em Cascais, matando-se a si e à sua mãe (os dois filhos também iam na viatura mas sobreviveram), foi detido pela PSP de Lisboa por burlas e falsificação de documentos envolvendo carros de luxo, confirmou o JN junto de fonte policial.
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Duarte Fraga é empresário do ramo automóvel há vários anos e dedicava-se à venda de carros de luxo. Mais recentemente, tinha aberto um novo stand de carros topo de gama, mas o negócio foi interrompido quando foi detido, na terça-feira, por uma equipa especializada em criminalidade automóvel pertencente à Divisão de Investigação Criminal. Está indiciado por 32 crimes de burla qualificada e dois crimes de falsificação de documentos.
Durante as buscas, a PSP apreendeu-lhe uma viatura de alta cilindrada, avaliada em meio milhão de euros e com matrículas falsas, três relógios de luxo e ainda 11.600 euros em notas, além de documentação diversa, alguma das quais falsificada.
Em causa estarão alegados crimes de burla com carros de luxos, alguns deles entregues à consignação, ou seja, quando o proprietário deixa a viatura no stand para que seja vendido. Neste tipo de negócio, quando o veículo é transacionado, o stand recebe uma comissão pela venda e entrega o valor restante ao proprietário do carro. No caso em concreto, o empresário é suspeito de ter vendido viaturas e ficado com todo o produto da venda, deixando os proprietários sem carro nem dinheiro. Entre os lesados estarão empresários e jogadores de futebol.
"E as pessoas que roubaste?"
A 9 de fevereiro deste ano, Duarte Fraga anunciou, no Facebook, o “regresso ao mercado autómovel” com a abertura de um stand após “dois anos de muita angústia e ausência”. Entre as centenas de votos de sucesso e de sorte, podem se ler algumas mensagens negativas: “Espero que agora tenhas a dignidade de me devolver o que deves”, escreveu o utilizador Pedro Hog, ao que o empresário respondeu: “Nem que seja a última coisa que faça na vida”.
Outro utilizador, que se identifica como Nuno Afonso, também o questiona sobre pagamentos alegadamente em falta. "E as pessoas que roubaste?", indagou, ao que o comerciante respondeu: "Assim será! Tu serás dos primeiros! E faço questão de entregar pessoalmente". Na mesma publicação no Facebook, o empresário também pede que o ajudem, referenciando-o na compra e venda de automóveis, pois só assim conseguirá "cumprir com todas as pendências".
Ex-mulher era suspeita de desfalque
Duarte Fraga foi casado e tinha um filho ainda adolescente com Raquel Godinho, a bancária da Ericeira que, em dezembro, terá conduzido voluntariamente na direção do mar, no Cabo Raso, em Cascais, e morreu. Na viatura, também seguiam a mãe, que perdeu igualmente a vida, e dois filhos menores, que conseguiram sair da viatura e salvar-se. No dia desta tragédia, Raquel ia responder à chefia do banco onde trabalhava pelo alegado desfalque de cerca de três milhões de euros.
Quando perderam a mãe e a avó, aqueles dois menores foram entregues ao cuidado do empresário. Na terça-feira, dia em que foi detido Duarte Fraga, os menores ficaram com a atual companheira deste empresário, informou a CNN.
Nesta sexta-feira, o JN pediu mais esclarecimentos sobre a operação ao Comando Metropolitano de Lisboa bem como à própria Direção Nacional da PSP, mas não obteve resposta em tempo útil. O JN também tentou contactar com o stand do empresário, mas o número de telefone indicado na sua página de Facebook, sem registo de atividade desde há uma semana, encontrava-se desligado.