Fez disparos e explosões para travar diligência de agente de execução e evitar que ex-mulher recebesse dinheiro da venda de imóvel.
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José Carlos Guerra, o homem que na tarde do dia 16 de fevereiro atirou sobre os operacionais que se deslocaram para o combate a um incêndio, numa antiga serralharia na aldeia de Vale de Madeiros, em Canas de Senhorim, no concelho de Nelas, acaba de ser acusado pelo Ministério Público (MP) de 12 crimes.
O taxista, de 62 anos, terá de responder por quatro crimes de homicídio qualificado agravados na forma tentada, de que foram vítimas três bombeiros e um militar da GNR, e por um crime de homicídio simples agravado na forma tentada praticado contra uma popular. Está indiciado também por quatro crimes de coação agravados e outro de incêndio, explosões e outras condutas especialmente perigosas. É ainda acusado pelo MP de um crime de detenção de arma proibida e outro de resistência e coação sobre funcionário agravado.
O homem, que está preso preventivamente, terá provocado o fogo e as explosões para impedir que um agente de execução avaliasse a propriedade e a pusesse à venda. Também não queria que a ex-companheira recebesse qualquer valor da venda do imóvel, como fora definido nas partilhas.
José Carlos Guerra tinha sido notificado dias antes de que um solicitador se deslocaria à antiga serralharia a 16 de fevereiro, às 15 horas. Minutos antes, foi para a propriedade e engendrou um plano para destruir tudo. Na garagem, furou o depósito de um carro e espalhou gasolina nos dois automóveis ali estacionados. Fabricou dois cocktails molotov e com um provocou o incêndio na garagem. Na cozinha abriu os bicos de um fogão para, com o outro artefacto, causar uma explosão e fogo, mas sem sucesso. Refugiou-se depois numa arrecadação subterrânea, levando com ele uma caçadeira.
Quando o agente de execução chegou ao local, José Carlos Guerra disparou dois tiros para o assustar. O taxista também não queria que os bombeiros apagassem o fogo e impedissem a destruição do imóvel. Por isso, quando os operacionais de Canas de Senhorim ali chegaram, Guerra começou a disparar, através de uma janela.
Filipe Coelho foi o primeiro a ser atingido, numa perna. Luís Abrantes, à data comandante-interino, levou um tiro na zona do abdómen. O disparo entrou de um lado da barriga e saiu do outro. Já o bombeiro Diogo Oliveira foi atingido num antebraço. Os disparos efetuados pelo arguido feriram ainda numa coxa o militar da GNR Carlos Cardoso, quando este montava um cordão de segurança na ocorrência. Maria Pais, popular que estava perto da entrada da serralharia, ficou ferida na cara.
Mortes evitadas
O MP diz que os operacionais baleados não morreram porque foram "prontamente assistidos no local e no hospital para onde" foram transportados, ou porque "apenas foram atingidos em zonas e órgãos não vitais".
Hospitalizados
Filipe Coelho, o bombeiro ferido numa perna, esteve dez dias internado no Hospital de Viseu. Já Luís Abrantes ficou hospitalizado durante três meses. Esteve um mês em coma.
"Interesse mesquinho"
A acusação diz que o arguido foi "motivado pelo interesse mesquinho de destruir tudo o que conseguisse para impedir que uma decisão do tribunal fosse cumprida".