Amigos da vítima sofreram de súbita "amnésia" e outros referem temer represálias por parte dos detidos.
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Há testemunhas do homicídio de Igor Silva, morto com 18 facadas durante a festa do título do F.C. Porto, que estão a ser pressionadas para alterar o depoimento e assim minimizar a intervenção de Marco "Orelhas", entretanto colocado em prisão preventiva. A convicção é do juiz de instrução criminal do Porto, que registou ameaças de morte contra amigos da vítima mortal. Algumas testemunhas poderão vir a beneficiar de proteção policial.
Marco Gonçalves, conhecido como "Orelhas", o seu filho Renato, o tio deste apelidado "Chanfra" e ainda um quarto indivíduo, que responde pela alcunha de Xió, são os quatro arguidos que foram colocados em prisão preventiva pelo homicídio de Igor Silva. Embora as autoridades não tenham dúvidas de que Renato, 19 anos, foi o único a esfaquear a vítima e por isso já tinha sido preso há cerca de três semanas, a justiça entendeu que os outros três tiveram uma intervenção direta na morte.
Para fundamentar a prisão preventiva de "Orelhas", "Chanfra" e "Xió", o juiz de instrução garante existirem fortes receios de perturbação do inquérito. Vários amigos da vítima que assistiram ao homicídio e, num primeiro depoimento, garantiram às autoridades que Marco "Orelhas" participou nos confrontos, vieram mais tarde a sofrer de aparente "amnésia". Alegaram num segundo depoimento não ter a certeza da presença dele.
medo de represálias
Outros confessaram mesmo recear represálias, qualificando os arguidos como sendo indivíduos vingativos e perigosos. Há ainda testemunhas que foram mais específicas nos seus segundos depoimentos e garantiram terem recebido ameaças de morte.
Por isso, o juiz não hesitou e colocou três arguidos, dos nove detidos no âmbito da Operação "Fim de festa", em prisão preventiva. O magistrado também está convencido de existir o risco de fugirem, por estarem agora indiciados pela coautoria de homicídio, arriscando largos anos de cadeia.
Outra convicção do juiz é que todos os indivíduos que participaram nas agressões a Igor sabiam que Renato tinha uma faca e todos também sabiam que a vítima era forte, sem medo de conflitos. Ou seja, que Renato iria precisar de algo mais do que a sua própria força para derrubar Igor.
Para o Tribunal de Instrução Criminal, na origem do homicídio está a vingança. Existia um conflito entre a família de Marco "Orelhas" e Igor Silva.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, houve quatro episódios de violência entre a vítima e a família Gonçalves: o primeiro num bar na zona da Lapa, no Porto, onde Igor terá agredido uma filha de Marco "Orelhas".
O segundo episódio foi registado na Queima das Fitas, poucos dias antes do homicídio. Lá, Igor e Renato cruzaram-se, o que originou uma nova zaragata, envolvendo novamente a filha de Marco, Iara. Houve depois uma tentativa de acerto de contas com elementos da família Gonçalves a deslocar-se ao bairro de Ramalde, onde vivia Igor. Lá também houve tumultos.
No Estádio da Luz, durante o clássico entre Benfica e Porto, pai e filho viram Igor nas bancadas e foram ao encontro dele. Houve agressões mútuas.
Pormenores
"Orelhas" ameaçado
Não são apenas as testemunhas do homicídio que estão a ser alvo de ameaças. Também "Orelhas" e familiares seus receberam mensagens garantindo que iriam pagar o preço da morte de Igor.
Tiros no Cerco
Nas vésperas do funeral de Igor Silva, foram ouvidos tiros no Bairro do Cerco, de onde é natural Marco "Orelhas". Os disparos criaram um clima de tensão que levou à intervenção da PSP.
Domiciliária
Renato Gonçalves poderá beneficiar da prisão domiciliária. Para sair da cadeia, deverá encontrar uma residência fora do Grande Porto.
Vítima
Nome: Igor Salazar Silva
Idade: 26 anos
Lugar: Ramalde, Porto
Igor tinha antecedentes criminais por questões de furtos e de violentas agressões. Terá estado envolvido em vários acertos de contas, com tiroteios, no Grande Porto e em Santo Tirso. Destemido, nunca fugiu de uma luta e era conhecido no seu bairro, em Ramalde, por ser "amigo do seu amigo". Aquando do funeral, dezenas de pessoas concentraram-se no bairro, onde lhe foi prestada uma homenagem com largada de balões brancos e colocação de velas. Também foi colocada uma foto gigante da vítima.