Documentos vendem-se na Internet a partir de 21 euros. PSP já detetou uma dezena de casos e fez detenções. Oferta e procura dispararam.
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A procura por testes à covid-19 ou por certificados de vacinação falsificados tem vindo a crescer, à medida que a apresentação daqueles documentos é cada vez mais necessária, seja para viajar, entrar em hotéis, restaurantes ou eventos. Em Portugal, a PSP já detetou cerca de uma dezena de casos e procedeu à detenção dos utilizadores, por suspeita de falsificação de documentos. Mas o universo será bem maior.
Na Internet, a oferta de certificados de vacinação falsos disparou nos últimos meses e os grupos que os anunciam multiplicam o número de participantes a cada dia. O que levanta dúvidas sobre a validade dos documentos apresentados não só por portugueses, mas também por estrangeiros.
Ao JN, a PSP refere que, até 16 de julho, "detetou cerca de uma dezena de situações" em que foram apresentados certificados covid-19 não genuínos. "Nos casos em que apuramos que se trata de atestado não genuíno, a pessoa que o apresentou como genuíno é imediatamente detida por falsificação de documento", afirma a PSP, dando como exemplo a detenção de um homem de 31 anos no Aeroporto de Lisboa, no dia 9. Quando fazia o check-in junto da companhia aérea, o passageiro apresentou um teste RT - PCR negativo que "motivou muitas dúvidas".
A PSP foi acionada e confirmou que o documento era falso junto do laboratório onde supostamente o teste havia sido realizado. "De forma livre, o suspeito afirmou ter adquirido [o teste] a troco de dinheiro, pelo que o mesmo foi cautelarmente apreendido", diz ainda. O passageiro, detido por suspeita de falsificação de documento, foi constituído arguido e prestado termo de identidade e residência.
Os laboratórios prestam informação sobre os testes quando as autoridades a requisitam e também agem proativamente se confrontados com casos suspeitos. Fonte da Unilabs revelou, ao JN, que tem conhecimento de poucos casos de testes falsificados, "três ou quatro, desde o início da pandemia", e todos foram encaminhados para as autoridades de saúde investigarem. O número, residual em centenas de milhares de testes realizados, não significa que o problema seja menor, a deteção das ilegalidades é que é difícil.
A maior dificuldade está na Internet, onde proliferam sites a vender testes falsos com o nome dos laboratórios, portugueses e estrangeiros, e o local onde os testes supostamente seriam feitos, acrescenta a mesma fonte. "Quando descobrimos um desses sites que envolvem a nossa empresa, fazemos queixa e pedimos às autoridades para o desativar. Já aconteceu uma vez", adiantou.
Oferta cresce 500%
Na Internet, estes "produtos" são vendidos maioritariamente na Dark Net e em fóruns de hacking.
Segundo a empresa Checkpoint, que se dedica a investigar o mundo obscuro das redes, os preços vão desde os 25 dólares (cerca de 21 euros), para os testes falsos, aos 250 dólares (212 euros, no caso dos certificados de vacinação. A oferta destes últimos aumentou 500% entre março e maio de 2021. A confirmar o crescimento do interesse por estes documentos, nos últimos dias, refere a empresa, "o número de utilizadores que se juntaram a grupos que anunciam testes e certificados falsos tem vindo a aumentar drasticamente". São grupos que oferecem documentos de países europeus, como os Países Baixos, França, Suíça ou Grécia, alguns dos quais contam entre 70 mil e 500 mil utentes.
"Fornecemos certificados de vacinação registados, cartões de vacinação e passaportes de vacinação para todos aqueles que não querem levar a vacina" é o "slogan" de um grupo seguido pela Checkpoint, que tem quase meio milhão de utilizadores. São movimentações que também afetam Portugal, na medida em que põem em causa a validade dos testes e certificados apresentados nos aeroportos pelos turistas e emigrantes que regressam ao país.
Ao JN, a GNR referiu não ter detetado, nas suas ações de fiscalização, a existência de testes ou certificados falsificados.