Mulher usava lixívia para ocultar dos vizinhos o cheiro do corpo em putrefação. Caso só foi conhecido quando ela morreu e é um mistério.
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Idalina Carvalho ficou estupefacta ao saber que o vizinho Custódio, que julgava ter falecido há mais de dez anos e para cujo funeral até contribuíra, ajudando a pagar uma coroa de flores, afinal estava mumificado, de pijama vestido, na cama, na casa em Linda-A-Velha, Oeiras, onde vivia com a filha. O caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária e só foi descoberto porque a filha, talvez a única pessoa capaz de o esclarecer, também morreu e o cheiro do seu corpo em decomposição alertou os vizinhos.
"Não sei o que pensar, é inexplicável, um grande mistério, o prédio juntou-se para comprar uma coroa para o funeral do senhor e afinal não houve", diz a vizinha do número 67 da Avenida Tomás Ribeiro, onde no domingo os bombeiros encontraram os corpos de Anabela e do pai. A mulher terá morrido recentemente por causas que só a autópsia irá determinar e viveu durante anos com o cadáver do progenitor sem que ninguém desse por isso.
"O prédio juntou-se para comprar uma coroa para o funeral do senhor e afinal não houve"
"A Anabela era a filha única de Custódio e da sua esposa, que faleceu antes dele. Via-a todos os dias a sair de casa para ir comprar água ao supermercado, porque não a tinha em casa", conta Idalina. Anabela, que terá cerca de 60 anos, "era introvertida, mas sempre muito gentil".
A única queixa que a vizinhança teve desta mulher era sobre o cheiro intenso a lixívia, suspeitando-se agora que a usasse para não se notar o cheiro do corpo do pai em decomposição. "Como ela não tinha água em casa, julguei que fosse para disfarçar o cheiro da canalização estagnada ou algo parecido", referiu a vizinha.
Desde sábado que começou a notar-se o cheiro a putrefação, o que levou os vizinhos a alertar as autoridades. Foram os bombeiros do Dafundo que fizeram a descoberta dos corpos quando entraram no segundo andar do prédio pela janela, na tarde de domingo. O corpo de Anabela bloqueava a abertura da porta. Teria morrido pelo menos há cinco dias, explicou ao JN Edgar Cassamo, segundo comandante da corporação.
"O corpo [do pai] que encontrámos no quarto estava na cama, vestido de pijama e com um lençol a cobrir metade do corpo não tinha cheiro, estava mumificado. Estava há vários anos ali", referiu Edgar Cassano. Dentro da casa havia "muito lixo, sinais de acumulação obsessiva, livros no chão, jornais, roupa. "Era difícil caminhar dentro da casa, exceto no quarto onde estava o homem, que estava limpo", disse o responsável.
Pormenores
"Muito reservada"
Ontem, nos cafés das redondezas, todos falavam sobre a macabra descoberta. António Neves conhecia Anabela e via-a a passar todos os dias, ao final da tarde. "Não dava muita confiança, cumprimentava, mas era muito reservada", recorda.
De casa para o Lidl
O percurso diário da mulher, que dizem já ter trabalhado na EDP, era sempre o mesmo. Saía de casa perto da hora de jantar e ia ao supermercado Lidl.
Autópsia decisiva
A Polícia Judiciária de Lisboa recolheu indícios durante toda a tarde de domingo. Os corpos serão autopsiados para determinar a causa das mortes.