Tony Carreira e ex-mulher saem do tribunal ao ouvir pormenores da morte da filha
Fernanda Antunes foi a primeira a abandonar a sala de audiências do Tribunal Judicial de Santarém, esta terça-feira à tarde, quando uma das testemunhas começou a descrever pormenores do acidente que vitimou a filha Sara Carreira, a 5 de dezembro de 2020, na A1, em Santarém. Tony Carreira saiu de seguida.
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Helena Lopes, assistente social, disse que quando se aproximou do Range Rover, conduzido pelo arguido Ivo Lucas, viu “uma menina em mau estado”. Foi nesse momento que a mãe de Sara Carreira se levantou e saiu da sala. A testemunha acrescentou depois que “parecia que estava a dormir, pendurada dentro do carro, com o cinto posto”. Ao ouvir as palavras da assistente social, Tony Carreira também saiu.
Já antes, outra testemunha, que também parou a viatura na berma, junto da zona acidentada, para prestar assistência, contou que “a vítima estava do lado de fora da porta, pendurada pelo cinto, de barriga para baixo.” Ex-bombeiro profissional, disse que ele e um veterinário cortaram o cinto, que “estava a sustê-la”, depois de constatarem que “não tinha pulso”. Estava com eles uma médica, que já não foi a tempo de ajudar Sara Carreira.
As duas testemunhas encostaram os veículos junto à berma, depois de se aperceberem de destroços na estrada. Contudo, enquanto o ex-bombeiro tentou socorrer a filha de Tony Carreira, a assistente social pediu a Ivo Lucas para entrar no seu carro e esteve a tentar acalmá-lo, até chegarem os bombeiros. “Tinha a sensação que tinha o pulso partido. Tinha medo que adormecesse e fui falando com ele”, explicou. “Estava confuso, preocupado com o carro e queixava-se com muitas dores”, relatou.
À pergunta do procurador do Ministério Público sobre se Ivo Lucas falou em mais alguém, Helena Lopes disse que “perguntou uma vez ou duas vezes pela namorada”, embora não tenha referido o nome da Sara, por pertencer a uma “família muito conceituada”. “Dizia que parecia que estava a ter um sonho com um amigo que tinha tido um acidente”, acrescentou. O ex-bombeiro, que se cruzou com o ator antes, confirmou que “estava confuso”. “A única coisa de que falava era de uma pessoa que tinha perdido há pouco tempo e perguntava pela namorada.”
“Amnésia está na moda”
“Tenho muita compaixão para dar e vender, mas não por mentiras”, reagiu Tony Carreira, à saída do tribunal, momento em que se manifestou desiludido. “A amnésia está na moda nos tribunais”, ironizou. Resta saber se o cantor se referia apenas ao facto de a advogada de Cristina Branco ter dito que a sua cliente estava com “amnésia traumática”, ou também a Ivo Lucas, por ter visto apenas um “vulto”, em vez do carro da fadista, com o qual colidiu, e ter dito que desconhecia a que velocidade viajava e em que via circulava.
Já Manuel Magalhães e Silva, advogado dos pais de Sara Carreira, manifestou compreensão por Cristina Branco ter pedido para não assistir às sessões de julgamento por “questões de saúde”. “Se efetivamente alguma coisa lhe traz recordações traumatizantes, é inteiramente natural”, comentou. Quanto à aparente contradição nos depoimentos, manifestou compreensão, tendo em conta que passaram quase três anos desde o acidente fatal para Sara Carreira. “As pessoas vão dizendo aquilo de que se recordam e depois cada um fará a sua apreciação.”
No âmbito deste processo, estão a ser julgados por homicídio por negligência Paulo Neves, por conduzir embriagado a cerca de 30 quilómetros por hora na A1, sem sinalizar a “marcha lenta”, e Cristina Branco por “não circular com a atenção devida”, pelo que não reduziu a velocidade ou ultrapassou o veículo de Paulo Neves, para evitar a colisão.
Ivo Lucas também é suspeito do mesmo crime, por circular na faixa central a uma velocidade estimada entre 139 e 131 quilómetros por hora e não ter reduzido a velocidade, nem travado “colidindo contra a guarda central de segurança, embatendo no veículo de CB”, o que levou Marisa Ginja, juíza do Tribunal Judicial de Santarém, que está a julgar este processo, a afirmar que “conduzia de forma desatenta”.
Tiago Pacheco é o quarto arguido, por conduzir na via central, circular a 150 quilómetros por hora, apesar de estar a chover e de ter passado por duas viaturas acidentadas, e não se ter desviado do veículo onde se encontravam Ivo Lucas e Sara Carreira.
A próxima de sessão de julgamento está marcada para amanhã, pelas 9.30 horas.