
Polícia Judiciária do Porto investigou o crime e identificou os três suspeitos que vão ser agora julgados
Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens
"Bubu", de Setúbal, deslocou-se ao Porto para roubar 24 mil euros a "Famoso Zeus". Este queria a droga sem pagar, disparou sobre o fornecedor e ficou só com sabonetes.
Corpo do artigo
Eduardo Almeida vivia na Baixa da Banheira, na Moita, em Setúbal, de onde saiu com a convicção de que ia roubar 24 mil euros a um traficante do Porto com quem tinha combinado uma transação de haxixe. Só que o portuense Sérgio Ferreira, 27 anos, também tinha a intenção de roubar a droga ao fornecedor de Setúbal, que conheceu através da aplicação encriptada Telegram. A dupla "banhada", como se diz na gíria, terminou com a morte de Eduardo, no Porto, em novembro de 2020. Sérgio Ferreira e dois cúmplices, um deles em parte incerta, vão começar a ser julgados em breve, no Tribunal de S. João Novo, no Porto.
De acordo com a acusação do Ministério Público (MP), os dois traficantes conheceram-se num fórum privado do Telegram. Sérgio usava a alcunha de "Pepe dos Santos" ou "Famoso Zeus", enquanto Eduardo era conhecido por "Bubu". Começaram a trocar mensagens, fotografias e vídeos com o propósito de acordarem uma transação de produto estupefaciente.
Poucos dias antes do homicídio, para tentar convencer o fornecedor de que tinha a intenção de pagar a droga, Sérgio enviou para Eduardo um vídeo, onde o portuense exibe um maço de notas na consola de um veículo. Nas mesmas imagens, diz: "Vou recolher mais guito, irmão, à partida vai dar para os seis", querendo referir-se a seis quilos de produto estupefaciente.
Vídeo com placas de haxixe
Por sua vez, Eduardo enviou-lhe imagens em que é possível ver, pelo menos em aparência, diversas placas de produto estupefaciente. Os dois homens também trocaram fotos de familiares, numa aparente tentativa de ganhar confiança e credibilizar o negócio que ambos queriam que terminasse em roubo.
"Entretanto, continuando a trocar mensagens, ambos acordam para o dia 24 de novembro de 2020 a deslocação de Eduardo Almeida à cidade do Porto, para vender oito quilos de haxixe, pelo preço de 24 mil euros", descreve a acusação do MP.
Nesse dia, Sérgio ligou para um cúmplice explicando-lhe ter a intenção de dar uma "banhada" e pretendendo que o acompanhasse como "motorista". A estes viria a juntar-se um terceiro arguido.
Eduardo saiu de Setúbal cerca das 17 horas e chegou ao Bonfim por volta das 21 horas. Os traficantes do Porto armaram-se com duas pistolas e esperaram por Eduardo na Calçada da Póvoa, no interior de um Audi Q5.
Eduardo Almeida saiu do carro, onde estavam amigos, e dirigiu-se à mala, de onde retirou um saco. Sérgio e um dos cúmplices saíram do Q5, ambos envergando camisola com capuz, com o qual tapavam a cabeça. Quando estavam perto da vítima, Sérgio terá disparado um tiro que atingiu a vítima no abdómen e o cúmplice também disparou para um pé.
Eduardo largou o saco e acabou por morrer no hospital, onde foi levado pelos amigos.
No saco não havia qualquer tipo de droga, mas antes sabonetes de higiene.
Pormenores
Antecedentes
Desde 2008, a vítima foi detida dezenas de vezes por tráfico de droga, furtos, condução sem carta e agressões. Ainda assim, era muito querida pela família e amigos.
Droga em casa
Sérgio Ferreira foi alvo de busca quando foi detido, a 30 de setembro de 2021. Em casa, tinha mais de 170 gramas de haxixe e diversas ferramentas utilizadas no tráfico.
Em parte incerta
O cúmplice de Sérgio, que também disparou contra a vítima, está em parte incerta. O outro está preso, em cumprimento de pena aplicada noutro processo.
