Traficantes aproveitaram falta de segurança para arremessar droga para a cadeia durante a pandemia
Com as visitas canceladas e com a entrada de sacos com roupa e comida proibidas durante a pandemia de covid-19, os traficantes recorreram ao arremesso de pacotes para fazer chegar a droga ao interior da prisão de Custóias, em Matosinhos, durante a pandemia.
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Um dos homens que aproveitou a falta de segurança do estabelecimento prisional para atirar cocaína e heroína por cima do muro da cadeia foi agora detido, quando estava em prisão domiciliária por furtos e roubos. Mesmo assim tinha heroína em casa.
É sabido que uma quantidade considerável da droga que chega ao interior das cadeias entra através das visitas ou escondida nos sacos que os reclusos recebem com roupa, comida e outros utensílios, incluindo rádios, televisões e consolas de jogos. Contudo, durante a pandemia da covid-19, as regras de prevenção do contágio do vírus SARS-CoV-2 impuseram a proibição da entrada de pessoas nas cadeias e o envio, do exterior, de qualquer tipo de produto.
Sem a tradicional forma de fazer chegar droga aos reclusos, os traficantes rapidamente adaptaram o método, aproveitando as fragilidades de segurança da cadeia de Custóias. Conhecedores de que as torres de vigia da cadeia estão, quase sempre, vazias e de que não há qualquer vedação que impeça a aproximação ao muro do estabelecimento prisional, controlado apenas por um sistema de videovigilância, os grupos dedicados ao tráfico começaram a arremessar embrulhos com droga para o interior da prisão.
Os baixos níveis de segurança, apurou o JN, motivaram reuniões entre responsáveis da Polícia Judiciária e a direção da cadeia de Custóias, mas, devido à falta de recursos, nada foi feito para travar esse crime.
Embrulhos no telhado e na rede de vedação
Os arremessos aconteciam sempre durante a madrugada. Um dos elementos do grupo parava o carro nas imediações da cadeia, atravessava o terreno encoberto pela vegetação, encostava-se ao muro da prisão num espaço que não estava coberto pelas câmaras de vigilância e atirava o pacote com droga para um local previamente combinado com os comparsas. Depois, fugia, quase sempre, sem ser detetado.
Na manhã seguinte, um recluso devidamente instruído apanhava o pacote e entregava a droga a outro elemento da rede, que a guardava até esta ser vendida nas celas. Na maioria das situações, o embrulho era atirado para o pátio, mas casos houve em que o preso teve de subir ao telhado para recolher a encomenda.
Noutras ocasiões, o embrulho ficou preso na rede de vedação e foi descoberto pelos guardas prisionais.
Preso domiciliário tinha heroína em casa
Ao longo do período da pandemia, a Polícia Judiciária foi identificando vários traficantes responsáveis pelos arremessos. Um deles foi detido nesta semana. Trata-se de um empregado de mesa, de 35 anos e residente na Maia, que recebia indicações do interior da cadeia sobre a quantidade de droga a arremessar e o sítio para onde atirar o pacote.
Integrado num pequeno grupo dedicado ao tráfico, executava a tarefa durante a noite e nunca foi apanhado em flagrante. Só uma investigação da Judiciária do Porto permitiu apurar a sua identidade.
Quando, já nesta semana, foi alvo de buscas, o suspeito estava em prisão domiciliária devido a furtos e roubos cometidos após o fim da confinamento. Mesmo assim, tinha 25 gramas de heroína na sua posse.