Bancas montadas no Bairro da Pasteleira Nova fazem lembrar uma feira de droga. PSP garante estar atenta àquela zona, com patrulhamento regular.
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Em plena pandemia de Covid-19, com regras de estrito confinamento, distanciamento social e etiqueta respiratória, quem passa junto ao Bairro da Pasteleira Nova, no Porto, assiste ao vaivém de dezenas de toxicodependentes, que se juntam para comprar a dose diária.
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Impressiona o à-vontade dos passadores (a soldo dos traficantes). Um, tranquilamente sentado num banco na porta de um prédio, outros aproveitando a entrada para o pátio de dois blocos e protegendo-se com um garrido guarda-sol amarelo montado numa mesa, outro com um oleado branco. São bem visíveis a grande distância, como um reclamo a anunciar uma promoção em dia de semana. Tão rapidamente recebem o dinheiro como entregam a dose.
O movimento só parou, subitamente, quando surgiram duas carrinhas das Esquadras de Intervenção Rápida da PSP. Ficam as bancas, o guarda-sol. Só se vê gente a correr para o fundo do bairro, outros a olhar pelas cortinas das janelas das casas. Os moradores já se acostumaram ao movimento contínuo, aos vigias nos dois bairros vizinhos (porque do outro lado da Rua Dom João de Mascarenhas fica o também problemático Bairro Dr. Nuno Pinheiro Torres), às discussões, aos gritos.
Apesar de a abertura de novos arruamentos permitir maior tráfego entre os cinco bairros da zona, os vigias continuam lá, à vista de toda a gente, avisando os traficantes de movimentos estranhos.
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"Não vivo num gueto"
Numa superfície comercial, paredes-meias com os dois aglomerados habitacionais, uma cliente admite ter algum receio daquele ambiente. "Mas não posso fechar-me num gueto", desabafa, resignada.
"Quem sai daqui deste supermercado tem de passar pelos dois bairros, mas eu nunca tive problemas. Vejo o triste espetáculo e também dois carros da Polícia Municipal, parados junto ao Pinheiro Torres e os agentes sem nada fazerem", afirmou a moradora, que preferiu não se identificar, apesar de viver num condomínio ligeiramente afastado dos dois bairros. Saco cheio com compras na mão, Cristina (nome fictício) faz logo questão de dizer que mora num bairro (Lordelo) sossegado. "Vivo ali há 20 anos e é um sítio tranquilo. Claro que é impossível não ver o que se passa lá em baixo. Apesar de nunca ter tido problemas, nota-se que isto piorou desde que demoliram o Bairro do Aleixo. Só mudaram o problema para outro lado", referiu a moradora.
autoridades atentas
A PSP do Porto sublinha que as referidas zonas têm merecido atenção, "sem descurar as demais áreas da cidade ou outros concelhos onde temos a responsabilidade da segurança dos cidadãos", refere o gabinete de Imprensa do Comando Metropolitano. E destaca a detenção, há dias, na zona, de dois suspeitos de tráfico.
"Desde o início da crise pandémica a PSP tem intensificado o número de operações de patrulhamento, bem como ações de fiscalização e sensibilização de modo a garantir o cumprimento das restrições impostas pelo estado de emergência", acrescenta a fonte.
VIGILÂNCIA
Autarquia oferece câmaras do trânsito
Em outubro do ano passado, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, colocou à disposição do Ministério da Administração Interna as câmaras de controlo de tráfego que a Autarquia possui. Para os bairros da Pasteleira Nova e Dr. Nuno Pinheiro Torres a edilidade prevê instalar dez câmaras "antivandalismo, com visão noturna, que criam automaticamente "máscaras" de proteção digital, impedem a visualização do interior dos edifícios e não fazem gravações", pode ler-se no site da Câmara.