
Autoridades europeias estão preocupadas com o maior consumo e tráfico de droga
Foto: Leonel de Castro/ Arquivo
A grande quantidade de droga traficada e consumida na Europa está a pôr em risco a saúde e a segurança dos europeus. Só em 2023, morreram 7500 pessoas por overdose e o número de homicídios causados por guerras entre cartéis também não pára de aumentar.
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Portugal não fica imune aos problemas associados ao narcotráfico, tanto mais que seis dos 34 laboratórios de produção de cocaína desmantelados no continente europeu estavam em território nacional.
Os alertas são da Agência da União Europeia sobre Drogas e constam do Relatório Europeu sobre Drogas 2025: Tendências e evoluções, publicado nesta quinta-feira. “O mercado do tráfico ilícito de drogas representa uma grave ameaça para a saúde e para a segurança dos nossos cidadãos. Promove um ambiente de intimidação e corrupção, comprometendo o tecido das nossas comunidades, empresas e instituições”, avisa o comissário europeu da Administração Interna e Migração, Magnus Brunner.
O responsável vai mais longe ao salientar que “a rivalidade feroz entre as redes criminosas não só acentua a violência dos gangues e os homicídios, como também envolve cada vez mais o recrutamento de menores para atividades criminosas”.
Drogas sintéticas a crescer
A mais recente análise revela que as polícias desmantelaram, em 2023, 413 laboratórios de drogas, sendo que 53 deles produziam catinonas sintéticas, droga psicoativa que imita os efeitos da planta Khat e cujos efeitos na saúde são impactantes. “Embora o consumo involuntário de catinonas sintéticas em misturas de drogas e comprimidos continue a ser motivo de preocupação, os consumidores também compram intencionalmente estas substâncias como droga estimulante preferida”, lê-se num documento que destaca a apreensão de “37 toneladas de catinonas sintéticas (27 toneladas em 2022 e 4,5 toneladas em 2021)”.
“A maioria envolveu um pequeno número de importações a granel provenientes da Índia, principalmente através dos Países Baixos”.
Também os novos opióides sintéticos, usados como substitutos da heroína, são uma ameaça. “Desde 2009, surgiram 88 novos opióides sintéticos no mercado europeu. Estes são, muitas vezes, extremamente potentes, criando riscos de envenenamento e morte”, descreve a Agência Europeia.
Aliás, os peritos esperam que “qualquer redução futura da disponibilidade de heroína na Europa, na sequência da proibição pelos talibãs do cultivo da papoila do ópio no Afeganistão, poderá levar a que as lacunas sejam preenchidas por opióides sintéticos”.
Certo, para já, é que, em 29 países europeus, “há uma ampla disponibilidade de uma gama mais diversa de drogas, muitas vezes com alta potência ou pureza, em relação às quais o conhecimento sobre os riscos à saúde é limitado”. É o caso dos produtos à base de canábis, que estão a ser “adulterados com novos e potentes canabinoides sintéticos, sem o conhecimento dos consumidores”.
Cocaína está a impulsionar a criminalidade
Já no que respeita à cocaína confirma-se o que já se vinha antecipando. “Pelo sétimo ano consecutivo, os estados-membros da União Europeia apreenderam quantidades recorde de cocaína, num total de 419 toneladas comunicadas em 2023 (323 toneladas em 2022). A Bélgica (123 toneladas), a Espanha (118 toneladas) e os Países Baixos (59 toneladas) representaram quase três quartos (72 %) da quantidade total apreendida”, destaca o relatório europeu.
Porém, países como Portugal, França e Alemanha também se transformaram em portas de entrada da cocaína na Europa. Por cá, foram apreendidas 22 toneladas em 2023 e 23 toneladas no ano passado. Nestes dois anos, também foram desmantelados seis laboratórios (dos 34 encontrados) que transformavam pasta de coca em droga pronta a consumir.
“A concorrência está a impulsionar a criminalidade relacionada com a cocaína, incluindo a violência e os homicídios realizados por gangues”, garante a Agência Europeia. O seu diretor, Alexis Goosdeel, alega, por esse motivo, que “o aumento de substâncias altamente potentes e de padrões mais complexos de consumo de drogas está a colocar sob pressão os sistemas de saúde e de segurança”. “Isto exige uma revisão geral da nossa abordagem e uma mudança da monitorização da situação para a avaliação ativa e o reforço da nossa preparação”, defende.
Tendências
Mais droga, mais potência, mais diversidade
A análise dos indicadores na União Europeia sugere que os fluxos de drogas parecem ser resilientes a muitas mudanças no mercado, com a disponibilidade a permanecer alta para todos os tipos de substâncias. Para as drogas sintéticas, como anfetaminas, MDMA e catinonas, há evidências de um aumento da produção dentro da própria Europa e existem preocupações de que essa produção local, mais próxima dos mercados consumidores, possa desencadear mudanças mais rápidas nas tendências de consumo.
Organizações resilientes
A resiliência do tráfico de drogas através de cadeias de abastecimento comerciais reflete-se nas grandes apreensões de droga nos portos europeus. Em 2024, a Espanha comunicou a sua maior apreensão de sempre de cocaína num único carregamento: 13 toneladas escondidas em bananas originárias do Equador. As redes criminosas utilizam técnicas sofisticadas de ocultação de cocaína, normalmente envolvendo carregamentos de mercadorias, através de portos mais pequenos, transferindo carregamentos de navio para navio no mar ou deixando os fardos a flutuar na água para recolha.
Tráfico através das redes sociais
Uma infinidade de plataformas eletrónicas são atualmente utilizadas para o tráfico de drogas. A nível retalhista, plataformas legítimas de comércio eletrónico e redes sociais são utilizados para vender novas substâncias psicoactivas, medicamentos falsos e, em menor escala, drogas já conhecidas. Os sites são também utilizados para vender precursores e outros produtos químicos utilizados na produção de drogas.
Adolescentes recrutados para matar
As redes criminosas também utilizam as redes sociais para explorar adolescentes. Jovens vulneráveis são recrutados, pessoalmente e online, para atuar como correios de drogas e, em alguns casos extremos, para participar em atos de violência e homicídios relacionados com o tráfico.
Luta pelo domínio de rotas e mercados
Os lucros potenciais com a venda de drogas atraem redes criminosas, o que causa uma intensa competição pelo controle de fontes, rotas e mercados e pode levar à violência. As preocupações aumentaram em relação à corrupção de funcionários das cadeias logísticas de abastecimento ou às tentativas de desestabilização de instituições por elementos infiltrados.
Mais 400 overdoses
A Agência da União Europeia sobre Drogas estima que, em 2023, registaram-se 7500 mortes provocadas pelo consumo de drogas (contra cerca de 7100 em 2022), principalmente envolvendo opiáceos em combinação com outras substâncias. Em Portugal, 65% das overdoses envolveram o consumo de cocaína.

