Família de João Silva, o jovem morto em Mindelo por empresário em fuga, está revoltada. Arguido libertado terá de apresentar-se às autoridades.
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"Que justiça é esta?! Tinha droga, foge, mata uma pessoa e sai em liberdade?" Arminda Ramos está indignada e tem lágrimas nos olhos. Era sogra de João Silva que, na terça-feira, morreu, depois de ter sido abalroado por um condutor em fuga à GNR, em Mindelo, Vila do Conde. Ricardo Sousa, 47 anos, estava indiciado por tráfico de droga, tentativa de fuga, condução perigosa, homicídio por negligência e omissão de auxílio. Disse que o meio quilo de haxixe era para seu consumo e que se assustou. O juiz acreditou. Foi libertado. GNR, família e amigos da vítima não se conformam.
"Ele tinha comprado uma mobília para a sala... Ainda nem chegou", conta Arminda. A filha, descreve, está "desfeita" e "piorou" quando soube da libertação. Acabou por lhe dar um calmante. "Está em choque, coitadinha", explica, disposta a lutar, "até às últimas consequências", para que "se faça justiça". O jovem casal, de 24 e 28 anos, namorava há sete anos. "Tinham uma relação linda", conta Arminda.
"Porque que é que a Polícia se anda a matar para apanhar estes gajos?", questiona, revoltada, Carina Gomes. É a melhor amiga de Ana. Também ela está "de rastos" e quer "justiça".
O acidente aconteceu às 20.30 horas. Ricardo Sousa seguia na EN13, em Mindelo, ao volante de um Mercedes CLA Biturbo, quando, ao ver uma patrulha da GNR, transpôs uma linha contínua e virou repentinamente a alta velocidade. Perante o comportamento suspeito e a desobediência às ordens de paragem, os militares iniciaram a perseguição. No cruzamento da Rua do Pinheiro com a Rua da Estação, o empresário da Maia não respeitou o sinal de stop e embateu violentamente no Fiat Punto de João Silva. Os dois militares GNR assistiram a tudo.
Em Tribunal, Ricardo Sousa alegou que o quase meio quilo de haxixe encontrado no Mercedes era para consumo próprio e negou qualquer ligação ao tráfico. Disse que ficou assustado com a GNR e fugiu por temer ser apanhado com a droga. Ontem de manhã, o juiz decidiu libertá-lo. Fica obrigado a apresentações semanais às autoridades policiais e teve de entregar o passaporte.
Desagrado
A decisão foi acolhida com desagrado pelas forças de segurança. Fontes contactadas pelo JN não encontram explicação para a libertação de um homem apanhado com meio quilo de haxixe e que provocou uma morte, durante uma fuga, a grande velocidade, a uma patrulha da GNR. Lembram ainda que Ricardo Sousa tentou abandonar o local sem prestar assistência ao condutor, que viria a falecer, e tentou agredir os militares.
O funeral de João Silva é esta sexta-feira, às 15 horas, em Aveleda, Vila do Conde.