Nas alegações finais do processo da Operação Pretoriano, o advogado do ex-líder dos Super Dragões acusou, esta segunda-feira, o Ministério Público de ter criado "um plano do bem e um plano do mal" e disse que Madureira foi estigmatizado por ser apoiante de Pinto da Costa.
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O advogado de Fernando Madureira acusou o Ministério Público de não ter cumprido a sua missão de “procura e descoberta da verdade”. “Foi montada uma estratégia e uma campanha que concluiu com este processo que só interessava a uma candidatura e só beneficiou André Villas-Boas. No final do dia, nem Maquiavel teria escrito um guião da melhor forma”, afirmou Gonçalo Cerejeira Namora, que pediu a absolvição dos arguidos. O advogado apontou o dedo a alguma “comunicação social, em especial à sensacionalista, que conseguiu transformar Fernando Madureira num alvo a abater, sem olhar a meios", alegando que "a verdade nunca interessou”.
O mandatário de Fernando Madureira contestou a interpretação do Ministério Público de que as alterações dos estatutos iriam beneficiar a direção que estava no poder e, por conseguinte, os arguidos. “Nada mais distante da realidade”, considerou, garantindo que os arguidos não teriam “nenhum interesse” na aprovação dos estatutos.
“O MP quis criar um plano do bem e um plano do mal”, descreveu o advogado. E a discussão dos estatutos ficou inquinada por, erradamente, se ter assumido aquela votação como umas primárias, lamentou o advogado, assegurando que não é crime defender uma posição e que “chegaram a estigmatizar quem apoiava Jorge Nuno Pinto da Costa e a classificá-lo de criminoso”.
"Nunca e em caso algum pode afirmar-se que existiu um plano prévio” para a execução dos crimes de que vêm acusados os arguidos, defendeu Gonçalo Cerejeira Namora, criticando o preconceito contra quem vê elemento da claque como “de classe baixa, mal educados e mal vestidos”.
Enquanto investigou, o Ministério Público nunca ouviu nenhum elemento da organização, da direção ou da assembleia geral, criticou o advogado. Invés, ouviu “o grupo de amigos e conhecidos” de André Villas-Boas, dos seguranças e hospedeiras e envolvidos nos confrontos físicos.
Para Gonçalo Cerejeira Namora, o episódio mais paradigmático do processo é Fernando Madureira a gesticular nas bancada. “Nada há mais a apontar, nem em 22 horas de CCTV. O senhor Fernando Madureira não interage com absolutamente ninguém”, afirmou. “Uma mão cheia de nada”, reforçou o advogado, destacando os “mitos” das câmaras desviadas e do pânico nas filas de credenciação.
“Foram efetivamente eventuais factos isolados sem qualquer premeditação ou ligação entre si Não haja lugares para pretensos justiceiros. Aqui há espaço para a justiça e consequentemente a absolvição dos arguidos”, concluiu Gonçalo Cerejeira Namora.
Vítor Catão “não é um delinquente"
Susana Mourão, advogada de Vítor Catão, salientou que o seu cliente teve a coragem de admitir que não esteve bem, procurou ajuda psiquiátrica e abandonou as redes sociais. “Percebeu que o seu papel não era ser a personagem Vítor Catão, mas sim pai, avô e homem de família”, garantiu. A advogada admitiu as falhas do seu cliente, “mas principalmente da organização”.
A advogada e Vítor Catão foram ameaçados e “mesmo assim teve coragem de falar” e Susana Mourão esperava que esse reconhecimento tivesse o devido reconhecimento, daí a surpresa por ter ouvido o MP a pedir uma pena efetiva superior a cinco anos de prisão. “Não é um delinquente”, é um homem “marcado pelo ingenuidade e pela infantilidade, que procurou o apoio médico”, com traços de “impulsividade e pânico desmedido, mas também uma evidente capacidade de mudança”.
Vítor Catão “mostrou que está disposto a mudar”. É o “início de uma nova etapa e a Justiça deve resisitir à vontade de agir como claque”, apelou a advogada, lembrando que Catão “jamais recorreu da medida de coação por consciência das suas responsabilidades” e de que “a sua postura teria de ser a mudança por si e pelos que o rodeiam”.
“Pode ter cometido erros, mas não é um oportunista” e nunca lucrou ou obteve qualquer rendimento com o futebol, defendeu Susana Mourão. A advogada fez questão de contestar a aplicação da lei sobre violência em eventos desportivos a este caso em concreto. “Em prol do princípio da especificidade deveria ser aplicado o Código das Sociedades Comerciais”, uma vez que se tratou de uma assembleia.
A advogada criticou o modo como surgiram as testemunhas no processo, quase todas indicadas pelo atual presidente, sem que tivessem sequer apresentado queixa. Os números “surgem no processo”. “Pode ser só uma coincidência, mas será que podemos confiar na autenticidade destas testemunhas, todas elas trazidas pela mesma mão e com o mesmo discurso concertado?”, questionou.
"Não houve conluio, não houve planeamento. Houve ações individuais e devem como tal ser analisadas”, atestou Susana Mourão, salientando que Catão, nunca pertenceu aos Super Dragões e investiu contra os jornalistas contra a vontade de Fernando Madureira e que tem uma relação de “ódio de morte” com Sandra Madureira.
“O Vítor não agrediu, não instigou, não participou em qualquer plano criminoso”, concluiu Susana Mourão, defendendo a sua absolvição, excetuando a parte relativa à comunicação social. Qualquer outra “chocar-me-ia”, antecipou a advogada, pedindo ao tribunal que lhe dê a oportunidade de “começar de novo”.