Um autocarro ardeu, esta terça-feira à noite, no Bairro do Zambujal, Amadora, onde vivia o homem que foi morto a tiro por um polícia na Cova da Moura. Na segunda noite de tumultos, a tensão alastrou-se a várias zonas de Lisboa. PSP deteve três pessoas.
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Dois autocarros da Carris arderam, por fogo posto, esta terça-feira à noite: o primeiro no Bairro do Zambujal, na Amadora, palco de intensos tumultos desde segunda-feira, quando Odair Moniz, aí residente, foi morto com dois tiros no peito pela PSP; o segundo na Portela de Carnaxide, no concelho vizinho de Oeiras, onde também foi incendiado um carro e vários caixotes do lixo.
Mas a PSP registou "focos de desordem em várias zonas da Área Metropolitana de Lisboa", nomeadamente em Casal de Cambra (Sintra) - foi arremessado um objeto contra a esquadra da PSP sem causar danos - e Damaia (Amadora) - houve desacatos em várias ruas, nomeadamente o arremesso de petardos e de pedras na via pública, bem como fogo posto em vários caixotes do lixo.
O contingente policial foi reforçado no Zambujal, encontrando-se várias carrinhas da PSP dentro do bairro, bem como elementos do Corpo de Intervenção armados com shotguns. Durante a noite, foram disparados vários tiros e incendiados contentores.
PSP "não tolerará atos de desordem": três detidos
Três pessoas foram detidas na terça-feira, no concelho da Amadora, duas por incêndio e agressões a agentes policiais e outra por incêndio e posse de material combustível, disse fonte policial à agência Lusa esta quarta-feira de manhã.
De acordo com a mesma fonte, na Amadora, um agente foi apedrejado e duas viaturas policiais ficaram danificadas. "Um grupo tentou incendiar, sem sucesso, uma bomba de gasolina", disse a mesma fonte.
Num comunicado enviado na terça-feira à noite às redações, a Direção Nacional da PSP transmitiu que está "empenhada em repor a tranquilidade no Bairro do Zambujal", apelando "à calma de todos os cidadãos", ao mesmo tempo que visa "manter as parcerias de muitos anos com as comunidades no concelho da Amadora".
"Hoje, lamentavelmente, voltámos a assistir a situações de desordem no interior do Bairro do Zambujal, designadamente a um episódio grave de violência urbana, com a subtração de um autocarro da Carris que, à posteriori, foi incendiado. De imediato, a Polícia, que já se encontrava com um efetivo robustecido no interior do bairro, acionou o Corpo de Bombeiros da Amadora no sentido extinguir este incêndio, preservando o local do crime para diligências de investigação", pode ler-se na nota.
Voltando a lamentar a morte de Odair Moniz Fernandes, que se encontra a ser investigada pelas autoridades judiciárias, a PSP envia uma "palavra de solidariedade" aos dois polícias envolvidos no incidente, "bem como a todos os polícias envolvidos na reposição e manutenção da ordem pública no concelho". E reitera que "repudia e não tolerará os atos de desordem e de destruição praticados por grupos criminosos, apostados em afrontar a autoridade do Estado e em perturbar a segurança da comunidade".
Câmara da Amadora apela à "manifestação pacífica"
A Câmara da Amadora assegurou que está "a acompanhar de perto" os desacatos ocorridos no Bairro do Zambujal. Lamentando todos as situações que coloquem em causa "a ordem pública e a segurança de todos, bem como todos os atos de vandalismo no espaço público", o município liderado por Vítor Ferreira (PS) apela "à manifestação pacífica, serena, sem violência de qualquer ordem". Na nota, enviada à agência Lusa, a Câmara da Amadora assegura ainda que continuará a intervir para garantir "a devolução do espaço público e equipamentos aos moradores".
Autarca de Oeiras critica "alarmismo"
Na sequência dos desacatos no concelho de Oeiras, o presidente da Câmara, Isaltino Morais, deslocou-se ao bairro da Portela, e em declarações aos jornalistas disse que o bairro estava tranquilo.
Isaltino Morais acusou também os jornalistas de "alarmismo" e de "não ouvirem os responsáveis políticos e policiais".
"Neste momento, está tudo tranquilo. (...) O papel do presidente da Câmara é apelar à calma e à tranquilidade", disse.
Vários caixotes do lixo e paragens de autocarro incendiados na primeira noite
Na noite passada, tinham já sido incendiados vários caixotes do lixo e paragens de autocarro, cujos destroços foram limpos na manhã desta terça-feira. O dia foi tranquilo, incluindo durante uma concentração em que cerca de 100 moradores exigiram "justiça" pela morte de Odair Moniz.
O cidadão de origem cabo-verdiana, de 43 anos, morreu baleado no peito por um polícia depois de ter sido mandado parar por uma patrulha e fugido para dentro da Cova da Moura. A PSP alega que os agentes reagiram depois de Odair Moniz os ter tentado agredido "com recurso a uma arma branca", mas a versão não convence amigos, familiares e vizinhos.