Tribunal "vai ter de decidir" se Pinho "dourou a pílula" à mulher, alega defesa
A defesa da mulher de Manuel Pinho sustentou, esta quarta-feira, que o tribunal que está a julgar o casal não tem forma de saber se o ex-ministro disse a Alexandra Pinho que celebrara o alegado "pacto corruptivo" com o ex-banqueiro Ricardo Salgado e, por isso, esta terá, na dúvida, de ser absolvida.
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Alexandra Pinho, de 63 anos, está acusada pelo Ministério Público de um crime de branqueamento de capitais por ter, alegadamente, ajudado o marido a ocultar, incluindo com recurso a offshores, as "luvas" de cerca de cinco milhões que Ricardo Salgado terá pago a Manuel Pinho para que este beneficiasse os interesses do Banco Espírito Santo (BES) e do Grupo Espírito Santo (GES) enquanto titulou a pasta da Economia, de 2005 a 2009.
Esta quarta-feira, o advogado Magalhães e Silva rejeitou, face à prova produzida no julgamento, que tenha existido qualquer acordo entre o marido da sua cliente e o então presidente do BES, mas ressalvou que, atendendo à acusação, teria de partir de pressuposto de que aquele pacto foi realizado. Nesse contexto, argumentou, a questão será perceber o que Alexandra Pinho sabia realmente.
"O tribunal vai ter de decidir se efetivamente é normal o marido dourar a pílula [à mulher] das coisas que faz mal ou se, contrito, à maneira dos adolescentes que dizem tudo, vai dizer que houve um pacto corruptivo entre ele o doutor Ricardo Salgado. O tribunal não tem maneira de saber se foi de uma maneira ou de outra", considerou, na reta final do julgamento, em Lisboa, o mandatário. Para Magalhães e Silva não resta, assim, outro desfecho a não ser aplicar o princípio "in dubio pro reo" e absolver a sua constituinte.
Alexandra Pinho está ainda acusada de um crime de fraude fiscal, em coautoria com Manuel Pinho, por terem declarado só em 2013 rendimentos de 2011. O advogado alegou que se trata de uma infração de "licença de isqueiro".
Na segunda-feira, o Ministério Público pediu quatro anos de pena suspensa para Alexandra Pinho e prisão efetiva para Manuel Pinho e Ricardo Salgado, ambos acusados de corrupção. O julgamento prossegue esta quarta-feira à tarde, com as alegações finais da defesa do ex-banqueiro.