Triplo homicida agiu consciente em barbearia: "Nada do que fez foi aleatório nem delirante"

A barbearia onde ocorreu o crime
Foto Rita Chantre
O perito que realizou a avaliação psiquiátrica a Fernando Silva, acusado do triplo homicídio numa barbearia em Lisboa, confirmou, esta sexta-feira de manhã, que o arguido é imputável, tendo agido consciente quando matou três pessoas a tiro numa barbearia em Lisboa e não durante um surto alegado pela defesa do arguido.
"Durante o crime, e analisando os factos, o arguido mostrou organização comportamental, no sentido em que dialogou com uma vítima, atirou para atingir órgãos vitais, a cabeça, nunca o fez de forma aleatória, delirante ou movido por alucinações e, até no momento da fuga, mostrou essa organização comportamental que não é compatível com qualquer surto psicótico", disse Sérgio Saraiva, perito que avaliou Fernando Silva.
No seu parecer, relatou ainda que o arguido é calculista, astucioso e cauteloso com palavras usadas em qualquer momento, com uma preocupação excessiva em dar imagem de patologia mental com um claro exagero de sintomas.
Em tribunal, a defesa quis que o perito esclarecesse se teve em conta quatro notas de alta de urgência em 2021 e 2022, após internamento que diz ter sido no âmbito da doença esquizofrénica. Sérgio Saraiva esclareceu que as notas reforçaram o seu parecer da imputabilidade. "As notas de alta de urgência agora analisadas não foram diretamente contempladas no parecer, mas sim indiretamente, através de outras consultas no Serviço Nacional de Saúde", frisou, acrescentando que os novos elementos "reforçam o parecer", já que, "em nenhum momento foi fechado o diagnóstico de esquizofrenia".
"Assim, mantenho a avaliação inicial de que o arguido tem psicose sem especificação ou tóxica, sendo esta movida pelo consumo de estupefacientes, que não o torna inimputável", resumiu. O perito esclareceu também que a dosagem de medicamento para a esquizofrenia que o arguido toma é apenas para efeitos sedativos: 25 miligramas, quando a dose usada na doença é de 300.
Fernando Silva está a ser julgado no Tribunal de Lisboa pela morte, a tiro, de Carlos Pina, barbeiro de 43 anos, e do casal Fernanda Júlia da Silva, de 34 anos, e Bruno Neto, de 36, na barbearia Grande Pente, no Bairro do Vale, em Lisboa, a meio da tarde do dia 2 de outubro de 2024.
O arguido, munido de uma arma de fogo, dirigiu-se à barbearia com o propósito de cortar o cabelo. De acordo com a acusação do MP, por não ter sido atendido de imediato, disparou sobre o barbeiro, sobre outro cliente que se encontrava à espera e sobre a companheira deste, matando-os. Depois, fugiu, acabando detido a 9 de outubro, escondido em casa de familiares.

