Advogados recordam farsa dos julgamentos dos presos políticos nos tribunais plenários, criados após a II Guerra Mundial e extintos em 1974.
Corpo do artigo
Quando, no outono de 1966, Saul Nunes, hoje com 90 anos e então preso político, foi levado a meio da noite da prisão de Caxias, em Oeiras, para a sede da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), no Chiado, em Lisboa, sabia que, pela primeira vez em muitos meses, não iria ser torturado.
“Ia ser julgado dali a dois ou três dias”, justifica, já na altura ciente de que não poderia comparecer ferido e debilitado num tribunal plenário que, apesar de ser presidido por juízes, era, na prática, “uma dependência” da polícia política do Estado Novo, onde a possibilidade de absolvição era quase impossível. Não se enganou e, nessa noite, a única coisa que a PIDE tinha para Saul Nunes era uma proposta, cujos termos nunca esqueceu.