Urgência em comprar ações da EDP levou Salgado a desviar milhões do GES, diz inspetor
A transferência, em 2011, de quatro milhões de euros de uma sociedade do Grupo Espírito Santo (GES) para uma offshore controlada por Ricardo Salgado, a Savoices, foi precipitada pela urgência do ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES) em comprar ações da EDP, defendeu esta quinta-feira, no julgamento do antigo banqueiro, o coordenador da investigação da Autoridade Tributária na Operação Marquês, Paulo Silva.
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O montante integra os 10,7 milhões de euros que, acredita o Ministério Público, Ricardo Salgado terá desviado, em 2011, do GES para a sua esfera pessoal. Esta quantia global inclui outros quase quatro milhões de euros transferidos por Henrique Granadeiro, à data administrador da Portugal Telecom (PT), para uma outra offshore do ex-banqueiro, a Begolino, alegadamente para tapar o buraco que fora deixado naquela sociedade do GES, a Espírito Santo Enterprises.
Apesar de ter saído de uma conta bancária de Henrique Granadeiro, o dinheiro pertenceria originalmente ao GES.
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Para Paulo Silva, o recurso ao ex-gestor da PT só não foi a opção inicial de Ricardo Sagado porque "iria demorar bastante mais tempo". O então íder do BES terá decidido comprar as ações da EDP logo no dia seguinte à aprovação em Conselho de Ministros, a 29 de setembro de 2011, da 8.ª fase da reprivatização da EDP. No total, terá adquirido, segundo a testemunha, dois milhões de ações da elétrica, através de uma conta da Savoices.
O inspetor tributário apoiou o seu depoimento num manuscrito sem data apreendido na Suíça, que acredita ter sido redigido por Ricardo Salgado e no qual são descritas estas operações. Questionado pelo advogado do antigo banqueiro, Francisco Proença de Carvalho, Paulo Silva admitiu, contudo, que não foi feita qualquer perícia forense ao documento, de modo a demonstrar que foi mesmo Ricardo Salgado a elaborá-lo.
O ex-líder do BES está acusado de três crimes de abuso de confiança, punível, cada um, com um a oito anos de prisão. O processo foi separado, em abril de 2021, da Operação Marquês. Henrique Granadeiro foi, na altura, ilibado de todos os crimes. O Ministério Público vai recorrer da decisão, mas tal não impediu o início, a 6 de julho, do julgamento de Ricardo Salgado, por menos crimes do que aqueles de que tinha sido acusado. O antigo banqueiro garante que é inocente e fala, antes, em "empréstimos".
O julgamento, a decorrer no Tribunal Central Criminal de Lisboa, continua a 13 de julho, com a inquirição das restantes testemunhas arroladas pelo Ministério Público. As diligências serão depois retomadas a 6 de setembro, após as férias judiciais.