Múltiplas pancadas anteriores terão contribuído para o desfecho fatal. Agressões na cabeça e asfixia foram causa da morte. Madrasta terá provocado aumento da tensão entre pai e filha. Mulher não queria que a criança vivesse naquela casa, em Peniche.
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Valentina foi agredida durante quatro dias antes de morrer às mãos dos últimos violentos maus-tratos infligidos pelo pai, na última quarta-feira, em Peniche. A madrasta terá contribuído para o clima de tensão entre pai e filha porque não queria aquela criança dentro de casa, onde já viviam os seus três filhos. O casal foi ouvido na terça-feira por um juiz de instrução criminal do Tribunal de Leiria, onde Sandro, 32 anos, e Márcia, de 36, foram vaiados. As medidas de coação serão conhecidas esta quarta-feira.
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Desde o domingo anterior que Valentina andava a ser agredida pelo pai. A autópsia revelou que a criança de nove anos tinha múltiplas lesões anteriores ao dia do crime, faz hoje precisamente uma semana. Foram várias pancadas em diversas partes do corpo, as quais o pai designava como "punições" e "correções".
Ao que o JN apurou, Márcia, que já tinha duas crianças em comum com Sandro - uma bebé e um rapaz de quatro anos, além de outro filho de 12 anos, só dela -, não suportava a presença de Valentina em casa, na Atouguia da Baleia, Peniche. As várias semanas de confinamento obrigatório terão aumentado as tensões latentes e Márcia pressionaria Sandro para que a filha dele saísse daquela casa.
Morte lenta sem assistência
As agressões continuadas, que terão contribuído para as complicações sofridas pela criança nas últimas horas de vida, tiveram um culminar mortífero no dia do crime. Enquanto dava banho à filha, o pai desferiu-lhe mais pancadas e mais fortes.
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A autópsia - que, além dos maus-tratos, também revelou asfixia - demonstrou que as lesões provocaram a falência de alguns órgãos, provocando uma morte lenta: pelo menos duas horas sem assistência. Enquanto Valentina estava em agonia, Sandro e Márcia saíram de casa. Quando regressaram, encontraram a menor sem vida.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o casal apercebeu-se da morte da criança ao regressar. Ao que tudo indica, com medo de vir a perder a guarda dos outros três filhos, decidiram-se por uma "fuga para a frente" e fazer desaparecer o corpo.
Ambos colocaram a menina no carro, em Atouguia da Baleia. E terá sido a mulher a conduzir até ao pinhal na freguesia de Serra d"El-Rei. Ali, ainda com o pijama vestido, abandonaram o cadáver e regressaram a casa. Só no dia seguinte, da parte da tarde, é que o pai se deslocou à GNR para participar o falso desaparecimento.
As autoridades organizaram buscas para encontrar a criança que, inicialmente, teria "fugido" de casa pelo próprio pé. Durante dois dias, pai e madrasta mantiveram essa versão até a Polícia Judiciária de Leiria os deter, já com fortes indícios dos crimes de homicídio. Sandro acabaria por confessar onde tinha abandonado o cadáver da filha.
Nega maus-tratos
Após a descoberta do corpo, num pinhal a cerca de seis quilómetros de casa, o pai negou ter assassinado a criança. Nem assumiu os maus-tratos, entretanto revelados pela autópsia. Afirmou que, na passada quarta-feira, estava a dar banho à filha quando esta foi vítima de uma violenta convulsão, invocando morte acidental.
No entanto, assumiu ter discutido com a filha, porque suspeitava que ela seria vítima de abusos sexual por parte de um parente da mãe, de quem está separado há muitos anos. Mas negou o espancamento e a asfixia.