Associação, que recebe um valor fixo por cada edição, nega ligação a esquema investigado pela GNR. Venda de bilhetes para atribuição de carros é feita por empresa privada.
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A Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra (APVG), que foi alvo de buscas e constituída arguida numa investigação da GNR a crimes de burla, branqueamento de capitais e associação criminosa, nega responsabilidade nos alegados falsos peditórios para os bombeiros. O presidente da instituição, Augusto Freitas, garante que a venda, a cinco euros cada um, de cem mil bilhetes por sorteio foi, há muitos anos, concessionada a uma empresa privada, de Sintra, e são os seus responsáveis que tratam de quase tudo relacionado com uma iniciativa que, a cada edição, pode render 500 mil euros.
No início do mês, o Núcleo de Investigação Criminal de Viseu da GNR, no âmbito da operação “The Scheme”, fez buscas na sede da APVG, em Braga. No final das diligências, a instituição foi constituída arguida por, suspeita a Guarda, dar cobertura a falsos peditórios que, havia cerca de 20 anos, vinham a ser feitos por todo o país e envolviam sorteios de automóveis.
Mas, ao JN, a associação nega a participação no alegado esquema criminoso. Segundo Augusto Freitas, por volta de 2013, a APVG celebrou um protocolo a autorizar uma empresa de marketing e publicidade a sortear “três a cinco carros” em seu nome. O acordo impõe que também sejam os veteranos de guerra a requerer, ao Ministério da Administração Interna, a obrigatória autorização para a realização do sorteio. Porém, a totalidade do montante angariado não reverte para a instituição.
O protocolo define que a APVG recebe um valor entre os “80 mil e os cem mil euros” por sorteio e a restante quantia arrecadada fica para a empresa, que tem as tarefas de vender os bilhetes, comprar os carros a oferecer e liquidar os impostos devidos. “Até agora, foram feitos mais de cinco sorteios”, conta Augusto Freitas.
Valor fixo
“Nunca fomos responsáveis pela compra dos prémios, nem pela venda dos bilhetes. Tudo isso era da responsabilidade da empresa. Nem sequer sabemos o número de bilhetes que são vendidos em cada sorteio. Só recebemos o valor estipulado no protocolo”, acrescenta o presidente.
Ao JN, Augusto Freitas assegura ainda que a APVG desconhece “se a empresa usava a venda de bilhetes do sorteio para dar cobertura a peditórios”. “Refutamos qualquer responsabilidade, mas também não acreditamos que isso seja verdade. Já há muitos anos que esta empresa faz a venda de bilhetes para sorteios de diversas associações de luta contra o cancro, de apoio a cegos, de bombeiros e à Cruz Vermelha”, explica.
Esquema
Peditório na rua
Um grupo instalava-se junto a uns semáforos ou rotundas e abordava os automobilistas que ali paravam.
Farda ou colete
Fardados integralmente ou envergando um colete dos veteranos de guerra, pedia um donativo para a compra de uma ambulância para a corporação local.
Desculpa pronta
Se tudo corresse bem, o grupo saía do local com o dinheiro angariado, mas se a GNR ou a PSP surgissem, os burlões diziam que vendiam bilhetes para um sorteio, autorizado, dos veteranos de guerra.
Sorteios
Prolongamento
A empresa nunca tinha prejuízo. Caso não vendesse um número de bilhetes satisfatório, pedia à APVG que requeresse, ao Governo, o prolongamento do período do sorteio.
Carros
Os sorteios em nome da APVG tinham como prémios carros. Na edição de 2019, foram sorteados seis automóveis, todas da marca Volkswagen.
500 mil euros
Era o valor máximo que a empresa podia arrecadar por cada sorteio realizado.