Um dos combates mais violentos no módulo de "bastão extensível" do 40.º curso de formação da GNR, em Portalegre, foi filmado por telemóvel e o vídeo está a caminho da Procuradoria-Geral da República (PGR), apurou o JN.
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O Ministério Público decidirá se abre inquérito-crime, mas já é certo que o ministro da Administração Interna, em reação à notícia do JN de ontem, determinou à respetiva Inspeção-Geral a abertura de um inquérito para apuramento de factos e responsabilidades.
Eduardo Cabrita pediu também esclarecimentos ao Comando Geral da GNR, considerando que os factos descritos, "a confirmarem-se, não são toleráveis numa força de segurança num Estado de direito democrático".
O ato de violência em pelo menos um treino de formação foi filmado por um oficial, com a categoria de alferes, destacado em Portalegre. De acordo com informações recolhidas, o alferes "terá gravado com o próprio telemóvel, a pedido de um familiar, a prova que este iria realizar, para recordação". "Na realidade, o que o alferes gravou foram os atos de violência durante a prova", explicou uma fonte, que solicitou ao JN reserva da sua identidade.
"Por ter pedido que as agressões ao seu familiar parassem e por ter mostrado o vídeo ao pai do recruta, o alferes foi agredido e ameaçado. Com a desculpa de, supostamente, ter efetuado uma gravação não autorizada, foi ele alvo de ameaças com processo disciplinar", explica a mesma fonte.
Contactado pelo JN, o alferes, que se encontra de baixa médica, recusou prestar declarações sobre o caso e informou que constituiu um advogado. Por sua vez, sabe o JN que este causídico terá decidido encaminhar o assunto à nova procuradora-geral da República, Lucília Gago.
Todavia, as ameaças dirigidas ao alferes terão "levado a que muitos guardas provisórios temessem denunciar aos responsáveis do Centro de Formação ou às autoridades as agressões de que foram alvo".
Enquanto isso, prossegue a averiguação sobre a "ocorrência" confirmada ao JN pelo Comando Geral da GNR através do porta-voz, Hélder Barros.
fraturas e lesão ocular
Em causa estão - recorde-se - espancamentos em cerca de 10 guardas provisórios que provocaram fraturas, perda de sentidos e até lesões oculares, obrigando a operações e colocando os recrutas em risco de não concluírem o curso.
As violentas agressões ocorreram no contexto de treino em confronto com um formador denominado "Red Man" (homem vermelho), armando com luvas de boxe, chumaços, caneleiras e capacete protetor, em notória superioridade em face dos indefesos recrutas, a lutar de calças e t-shirt, sem qualquer proteção e com um mero bastão de plástico (PVC) revestido a esponja ou borracha.
Esta terá sido a primeira vez que, no curso de bastão extensível, ocorreram situações de violência tal que implicou assistência hospitalar. Primeiro, os recrutas com fraturas e outras lesões graves foram levados para o Hospital de Portalegre. Posteriormente, em face da gravidade das mazelas, foram transferidos para o Hospital São José, em Lisboa, onde foram submetidos a intervenções cirúrgicas.
O 40.º curso de formação da GNR termina oficialmente no próximo dia 14 e é provável que estes guardas provisórios não o concluam, precisamente em consequência das lesões sofridas.