Advogado de ex-presidente do Benfica revelou ao JN estar a ponderar recorrer das medidas de coação aplicadas pelo juiz Carlos Alexandre, que ainda não aceitou proposta de caução.
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É hora de jogar ao ataque para Luís Filipe Vieira. O ex-presidente do Benfica está a ponderar recorrer das medidas de coação aplicadas pelo juiz Carlos Alexandre, no âmbito da Operação Cartão Vermelho. Ao JN, o advogado do ex-líder encarnado, Manuel Magalhães e Silva, revelou que, para a defesa, há muita fragilidade nos indícios recolhidos pelo Ministério Público (MP).
"O prazo para apresentar o recurso termina no próximo dia 9 de agosto. Daqui até lá, iremos ponderar. Mas acreditamos haver muitas fragilidades nos indícios apresentados pelo MP. Acreditamos existir excessos nas medidas de coação, nomeadamente na caução aplicada, precisamente em função das fragilidades desses indícios", disse ao JN Magalhães e Silva, que preferiu não se alongar.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, a proposta de caução foi enviada ao Tribunal Central de Instrução Penal ("Ticão"), pela defesa de Vieira na passada quinta-feira.
Imóvel dá para pai e filho
O oferecimento engloba as 753 mil ações da Benfica SAD, que ontem estavam cotadas em 4,43 euros cada. Ou seja, só o penhor dos títulos vale 3,3 milhões de euros, ultrapassando os 3 milhões exigidos por Carlos Alexandre para libertar Vieira da prisão domiciliária. Mas o ex-presidente do Benfica quis "assegurar" a aceitação do juiz e juntou às ações um imóvel, avaliado em mais de um milhão de euros. De acordo com fonte judicial, este prédio está situado em Sesimbra e pertence à filha do ex-líder das águias, Sara.
Mas o valor do imóvel foi dividido. Vieira quer que o juiz considere para a sua caução apenas 400 mil euros. Os restantes 600 mil serão destinados a assegurar a do filho, Tiago Vieira, também detido na Operação Cartão Vermelho. O juiz ainda não se pronunciou, mas é espectável que esta semana se fique a saber se aceitou a proposta de caução tanto de Vieira como do filho Tiago.
Para já, o inquérito tem três grandes linhas acusatórias. Além das dívidas ao Novo Banco, as restantes envolvem o Benfica e a liderança de Vieira, por suspeitas de ter prejudicado o clube. Com o agente de futebol Bruno Macedo, terá arquitetado um esquema para inflacionar comissões e serviços nas transferências de três atletas. O Benfica terá desembolsado 2,5 milhões de euros a favor do agente, que fez circular o dinheiro por offshores, até voltar para Portugal, onde terá servido para adquirir imóveis de Vieira.
O ex-líder das águias é também suspeito de ter montado uma OPA apenas para que o amigo e acionista do clube José António Santos, conhecido como "rei dos frangos", pudesse ser recompensado pelos nove milhões de euros gastos com a compra da dívida de Vieira a um fundo abutre. O esquema faria com que Vieira não fosse executado.
Pormenores
MP pronuncia-se
O Ministério Público será chamado a pronunciar-se sobre a proposta de caução e poderá dar parecer negativo. É que uma das acusações feitas ao ex-presidente do Benfica envolve precisamente ações da SAD.
Outros detidos
Além de Vieira, foi também detido o filho Tiago, o amigo e sócio António José Santos ("rei dos Frangos") e o empresário de futebol bracarense Bruno Macedo.
Manifestação
Uma manifestação de apoio a Vieira está marcada para as 19 horas, na Luz, e deverá contar com vários ex-jogadores do Benfica, como João Manuel Pinto.