Violência entre sem-abrigo: "Não é como era há cinco anos, aqui é como em Lisboa"
A Praça dos Poveiros e o Coliseu estão esvaziados de pessoas sem-abrigo ao final da tarde, em contraste com a lufa-lufa das compras de Natal. Mas da Rua do Campinho até à Batalha abundam cobertores e casas de papelão. Maria Carolina está sentada no meio de uma muralha de abrigos improvisados.
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Está a fazer horas para ir comer à cantina social. Já viveu na rua, mas hoje tem pouco mais do que um quarto, no Campo 24 de Agosto, em que lhe aceitam o cão, Snoopy, que está ali pronto a atacar o inimigo que ameace a dona. É preciso dar tempo até que o Snoopy se acalme e se habitue aos estranhos que abordem a proprietária. Enquanto lhe tapa os olhos e lhe diz que somos “amigos”, Maria Carolina conta que, por ali, “há muita loucura” e que, “de há uns tempos para cá, é tudo uma falta de respeito”. Vizinhanças complexas, barulhos de boca, discussões infindáveis que existem até entre velhos conhecidos.
“Não é como era há cinco anos. Aqui é como em Lisboa. Há muitas pessoas estrangeiras. Há também mais portugueses na condição de sem abrigo. Não há casas”, afirma, segura do que está a dizer. “Eles têm de ir buscar o dinheiro a algum lado. Se puderem, assaltam” acrescenta.