Viu “um ódio nos olhos” do vizinho e fugiu. Tiro falhado matou criança em Setúbal
Tribunal de Setúbal julga homem acusado de homicídio por negligência de sobrinho, de sete anos, e de tentativa de homicídio de adulto que queria parar discussão.
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Uma discussão entre vizinhos, no Bairro da Bela Vista, em Setúbal, levou Ângelo Barão, de 30 anos, a disparar um tiro de espingarda contra outro homem, de 27. Falhou e atingiu mortalmente o sobrinho, de 7 anos. No Tribunal de Setúbal, onde o arguido está a ser julgado por homicídio negligente do sobrinho e tentativa de homicídio do vizinho, este último contou que, no fatídico 19 de fevereiro de 2024, só queria fazer “uma boa ação”, isto é, parar uma discussão entre famílias, à porta de casa, mas foi insultado e ameaçado pelo arguido.
“Vi um ódio nos olhos dele que me fez querer fugir”, contou no julgamento a testemunha que, meses antes, já tinha tido uma discussão com o arguido, em que este lhe chamou “burro” e o desafiou para uma luta. Em fevereiro do ano passado terá sido diferente. “Ia passear os cães e tentei parar uma discussão, que estava a tornar-se violenta, entre duas famílias, e ele, que estava num grupo, ameaçou-me e insultou-me”. Segundo acrescentou, decidiu então sair dali e dirigiu-se ao seu carro, não tendo sido atingido por pouco: “Disparou logo contra mim, mas não acertou”.
A acusação deduzida pelo Ministério Público, com base na investigação da PJ de Setúbal, também relata que "o arguido efetuou o disparo na direção da viatura onde seguia aquele que pretendia atingir, mas, fruto do espírito de vingança que o movia, do aumento de adrenalina, de alguma imperícia e falta de atenção, atingiu os seus familiares que se encontravam na sua linha de tiro". Além do sobrinho, o arguido atingiu a avó, de raspão, num braço.
Defesa culpa espingarda
Em tribunal, o arguido remeteu-se ao silêncio. O seu advogado, Aníbal Martins, adiantou que este assumirá a autoria do homicídio negligente do sobrinho no final do julgamento, mas disse que o disparo “foi involuntário e fortuito” e que o alvo não era o vizinho, queixoso, mas familiares com quem teve a discussão. “O arguido vai carregar consigo, toda a vida, a morte do sobrinho, com quem tinha uma grande ligação e a quem socorreu de imediato logo após o disparo”, acrescentou o advogado, sublinhando que a arma disparou acidentalmente, por não ter dispositivo de segurança. “O irmão do arguido, que pegou na arma logo a seguir, disparou novamente, para o ar, por acidente”.
A vítima da tentativa de homicídio fugiu do local do crime. E, quando chegaram, as autoridades ouviram um primeiro relato dos factos que era falso, apontando aquele homem como autor do disparo contra a criança.
Em tribunal, o homem recorda que se refugiou na casa da irmã, onde planeava ficar escondido do agressor, mas desconhecia ainda que uma criança tinha sido morta pelo tiro que lhe era destinado. “Logo nesse dia, percebi que tinham contado uma história em que eu era o suspeito do crime”, disse.
Mas a PJ esclareceria a situação, imputando o disparou ao arguido, que, de resto, se entregou depois de alguns meses e fuga.
O julgamento prossegue em Setúbal.