Família do defunto apontou arma a mulher, de 37 anos. Investigação da PSP do Porto permitiu apreender pistolas ilegais, incluindo uma Glock igual à dos polícias, e droga
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Uma viúva foi ameaçada de morte pela família do marido por não estar a cumprir os rituais relacionados com o luto impostos à comunidade cigana. Com medo do que lhe podia acontecer, a vítima, de 37 anos, apresentou queixa e a PSP do Porto deu início a uma investigação que terminou, na passada segunda-feira, com a apreensão de quatro armas de fogo ilegais, uma das quais usada para sustentar as ameaças, e quase 80 munições. As buscas permitiram, ainda, apreender droga. Três homens, todos com cadastro, também foram detidos, mas libertados sem terem sido interrogados por um juiz.
O casamento do casal de etnia cigana prolongou-se durante vários anos e só acabou quando, em 2019, o marido morreu. Desde essa data, ditam os costumes da etnia, a mulher estaria obrigada a cumprir diversos rituais. Não se lavar durante meses, vestir-se de preto, cortar o cabelo, não ver televisão ou ouvir música estavam entre as obrigações. De igual modo, não podia participar em festas, frequentar cafés e muito menos namorar.
Estas regras, entendeu a família do defunto, não estavam a ser respeitadas pela viúva que, por esse motivo, foi ameaçada de morte. A ameaça foi concretizada em novembro do ano passado, quando vários elementos da mesma família, incluindo três irmãos do homem morto, se deslocaram a casa da viúva, em Rio Tinto, Gondomar. Nessa ocasião, um dos irmãos do morto chegou a empunhar uma arma para mostrar a sua indignação.
Buscas em Gondomar, Valongo e Maia
Temendo pela sua vida, a vítima apresentou uma queixa na PSP e o caso começou a ser seguido pela Divisão de Investigação Criminal (DIC). Após meses a recolher prova, os polícias da DIC avançaram, na segunda-feira, com buscas domiciliárias em Gondomar, Valongo e Maia e apreenderam uma caçadeira, duas pistolas de calibre 6.35mm e uma Glock, arma igual às utilizadas pelas forças de segurança em Portugal.
Todas as armas, assim como 78 munições, estavam ilegais. Duas delas foram encontradas na casa de dois irmãos do defunto e uma foi a que serviu para ameaçar a viúva.
Durante a operação levada a cabo pela DIC foram apreendidas 129 doses de canábis, droga que era para ser traficada por um dos três homens, de 39 e 40 anos, detidos em São Pedro da Cova (Gondomar) e São Pedro de Fins (Maia).
Todos os detidos possuem cadastro por diversos crimes, sobretudo furto em residências e viaturas. Mesmo assim, foram libertados com termo de identidade e residência sem terem sido sujeitos a primeiro interrogatório judicial.