Ruben Oliveira, principal arguido de uma rede de narcotráfico internacional que está a ser julgada no Tribunal de Lisboa, queria fazer do Porto de Setúbal a principal entrada de cocaína da Colômbia, uma vez que é aqui o primeiro porto onde os navios da América do sul realizam escalas na Europa.
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A tese foi avançada esta terça-feira no julgamento por Vítor Ananias, coordenador de investigação criminal da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da PJ, que contou que a prova disso foi um encontro seguido pela PJ entre Ruben Oliveira, conhecido como "Xuxas”, e um estivador do Porto de Setúbal, Paulo Joaquim, que foi recentemente condenado por tráfico de droga a partir do Porto de Setúbal noutro processo.
O estivador chegou a ser acusado pelo MP neste processo em que se julga a rede liderada por Ruben Oliveira, mas foi despronunciado pelo juiz de instrução Carlos Alexandre por falta de provas.
O advogado de Ruben Oliveira desvalorizou aquele encontro e disse que "a própria conversa gravada não tinha interesse para o julgamento. Não há quaisquer provas sobre a ligação ao Porto de Setúbal, nem ao aeroporto ou Porto de Leixões".
“Tribunal não é workshop de investigação”
Em tribunal, o advogado quis perceber se os meios de gravação da conversa são da própria Judiciária ou pessoais, mas o coordenador não especificou, afirmando que são meios da PJ, mas que não os pode descrever. "Posso dizer que estava a 150 metros do local do encontro em Setúbal, mas nada mais. O tribunal não é um workshop de investigação criminal, não posso divulgar como é recolhida prova", afirmou.
O encontro entre Ruben e Paulo decorreu em novembro de 2020, na mesma altura em que a PJ apreendeu 12 milhões de numa carrinha em Lisboa e que pertenciam a Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como o “Escobar brasileiro”, e Ruben Oliveira. Nessa altura, disse o coordenador, "identificámos em Portugal o Ruben, José Afonso e Fernando Frutuoso, os indivíduos que comunicavam frequentemente com Sérgio Carvalho, que já estava a ser seguido. Os 12 milhões estavam numa carrinha em nome de Fernando Frutuoso", disse o coordenador.
Fernando Frutuoso era o número dois de Sérgio Roberto de Carvalho, um antigo major da Polícia Militar do Mato Grosso (Brasil), e, no dia da apreensão dos 12 milhões, estavam os dois juntos em casa do primeiro. Logo a seguir, Sérgio Roberto de Carvalho saiu do país.
Em tribunal o coordenador da PJ afirmou que a ligação entre Ruben Oliveira e Sérgio Roberto de Carvalho surgiu através da investigação francesa ao Encrochat, um sistema de comunicação utilizada por grupos criminosos e que essa investigação surgiu aos próprios aparelhos que vinham sendo apreendidos a suspeitos de tráfico de droga.
Ruben Oliveira vai defender-se da acusação do MP no fim do julgamento. A informação foi avançada por Vítor Parente Ribeiro, advogado do arguido, e surge no sentido de negar “as acusações ou que tivesse qualquer ligação ao Porto de Setúbal, ao aeroporto ou Porto de Leixões".