Lideravam esquema de produção de droga em antiga tinturaria. Faziam depósitos milionários e declaravam rendimentos de 173 euros mensais. Homem tinha visto "gold".
Corpo do artigo
Uma autêntica fábrica de cultivo intensivo de canábis, montada num armazém da Maia, onde foi apreendida mais de uma tonelada de droga, era uma mina de ouro para um casal de nacionalidade chinesa. Enquanto declaravam tostões ao Fisco, pelas suas contas bancárias passaram, nos últimos quatro anos, 675 mil euros. O Ministério Público (MP) acusou de tráfico de droga o casal e um terceiro indivíduo que vivia no armazém e exige a entrega daquela quantia ao Estado.
Em julho do ano passado os investigadores da PSP foram surpreendidos pela dimensão e sofisticação técnica da estufa que encontraram nas instalações de uma antiga tinturaria. Centenas de lâmpadas, de extratores de ar, de medidores de temperaturas e de plantas de canábis foram apreendidas. A estufa estava dividida em quatro espaços, cada um com plantas em diferentes fases de maturação e crescimento. A canábis era depois seca e embalada a vácuo em sacos de plástico, para evitar a propagação do odor da droga.
Declaravam tostões
O MP garante que os arguidos ganharam muito dinheiro com a estufa clandestina. O casal, ele de 51 anos e ela de 35, declarou à Autoridade Tributária, desde 2014, apenas 25 mil euros de rendimentos lícitos, o que corresponde a um ordenado de cerca de 173 euros por mês, para cada um deles.
Mas o MP foi vasculhar as contas bancárias e detetou depósitos no valor de 675 mil euros. As autoridades acreditam que a diferença entre os 25 mil euros declarados e os 675 mil depositados corresponde aos lucros do tráfico de droga e pediram a perda alargada de vantagem.
O lucro era quase total porque, para além do investimento inicial em lâmpadas e tecnologias para a produção intensiva de canábis, que consome bastante energia, os indivíduos não gastavam um cêntimo em eletricidade. O equipamento era alimentado através de uma ligação ilegal, a partir de um posto de transformação. A EDP estima o prejuízo em cerca de três milhões de euros. Este processo será julgado à parte.
O terceiro indivíduo, responsável pela manutenção da estufa, terá estado mais de um ano trancado no armazém, onde comia e dormia. Quando foi detido, declarou que levava uma vida de escravo e pensava que estava em Espanha. Apesar de ser considerada uma possível vítima de tráfico de ser humano, foi colocado em prisão preventiva, tal como os líderes, e também vai ser julgado. As autoridades acreditam que o casal pertence a uma rede internacional que também atua em Espanha e noutros pontos do país.
Máfia chinesa implantada em Portugal
No passado mês de novembro, a Polícia Judiciária (PJ) do Porto apreendeu uma tonelada e meia de canábis e deteve dois homens e uma mulher, chineses, suspeitos de explorarem duas superestufas, em Santa Maria da Feira e Vila Nova de Gaia. As autoridades estão convencidas de que este grupo está ligado ao trio detido no armazém da Maia, agora acusado pelo Ministério Público. Segundo a PJ, os suspeitos colhiam as plantas, embalavam-nas em vácuo para as enviar em pacotes de oito a dez quilos, através de transportadoras, para França, Alemanha, Holanda, Inglaterra e Bélgica. Os recetores eram todos cidadãos chineses.