
O arguido tentou em tribunal convencer os juízes de que o estado cadavérico em que a sua mãe se encontrava fosse devido a uma qualquer falha de diagnóstico no hospital
Arquivo Global Imagens
O Tribunal de Setúbal condenou um antigo radialista a 22 anos de prisão por matar a mãe de 82 anos à fome em Grândola.
Carlos Rosa, 55 anos, foi condenado por homicídio qualificado e o tribunal teve em conta que não mostrou qualquer sinal de arrependimento ou autocrítica. Quando foi confrontado na sala de audiências com as fotografias do cadáver da vítima prostrada na cama da própria casa, com escaras pelo corpo e com fezes secas na metade inferior, o arguido não esboçou qualquer remorso.
Carlos negou tudo e até jurou pela sua saúde que tomava conta da sua mãe, Isabel Velez. Garantiu que um dia antes da morte mudou e lavou a roupa da vítima, que a alimentava constantemente e que apenas dois dias antes é que ficou acamada. O coletivo de juízes não deu qualquer credibilidade aos argumentos e comprovou o crime mais grave imputado pelo Ministério Público, homicídio qualificado. O tribunal declarou ainda a indignidade sucessória.
Carlos deixou propositadamente a mãe morrer à fome no quarto desta, enquanto passava os dias a ver televisão no quarto ao lado, com ambientadores para disfarçar o cheiro nauseabundo que provinha do quarto da idosa. Isabel faleceu no dia 1 de agosto de 2020 em casa, o número dez da Rua 25 de Abril, e foi o filho que alertou as autoridades.
A idosa já não saía da cama há pelo menos quatro meses e era na sua cama que fazia as necessidades. O seu filho, alcoólico e desempregado, apenas a alimentava a leite e água, ficando com a reforma de dois mil euros mensais para gastar consigo. Não cozinhava, pedia ao merceeiro para lhe entregar em casa água, chá, sopas Knorr, tabasco, carne do lombo, leite, mel e marisco congelado, mas a última vez que comprou comida para a sua mãe foi em janeiro, uma sopa.
Carlos Rosa negou o valor da reforma apurado pela investigação, disse que era de 950 euros, e que tinha que gerir duma forma poupada, como a mãe lhe pedia para fazer. A última vez que a idosa tinha ido ao hospital tinha sido há dois anos, onde ficou internada durante dois dias. Foi-lhe diagnosticado no Hospital do Litoral Alentejano desidratação, sendo que a mesma se encontrava em péssimo estado geral.
O arguido tentou em tribunal convencer os juízes de que o estado cadavérico em que a sua mãe se encontrava fosse devido a uma qualquer falha de diagnóstico no hospital, uma vez que ficou surpreendido pela forma como esta se encontrava, mas os juízes não acreditaram. "A minha mãe comia, torradas, Cerelac era o seu preferido, não sei como é que podia ter chegado a este estado, talvez algo que não lhe tivesse sido diagnosticado", afirmou Carlos Rosa. "Não me venha com coisas", disse a juiz presidente, "o que está documentado não acontece em dois dias. Pode dizer o que quiser, acredita quem quer".

