Em Portugal houve um aumento de perto de 50% no tráfego em sites marginais da internet. Associação critica empresas gigantes do digital por permitirem contornar bloqueios das autoridades.
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O confinamento obrigatório fez disparar a procura de televisão pirata e os sites de "streaming" ilegal na Internet, onde é possível ver ou descarregar conteúdos protegidos por direitos de autor. Um estudo de uma empresa especializada em pirataria estima que, em Portugal, o tráfego de sites piratas tenha subido perto de 50%, levando alguns a aumentar a capacidade de resposta por se terem tornado mais lentos devido ao número de utilizadores.
A Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP) acusa as grandes multinacionais do digital de favorecerem a pirataria e assume haver nesta altura cerca de 310 mil lares equipados com sistemas de TV ilegal. A Polícia Judiciária tem assinado o aumento, embora não tenha dados que permitam quantificá-lo.
Se antes da pandemia o negócio florescente da TV pirata e dos sites de streaming estava associado à vontade de ver canais de desportos, como a Sport TV, agora, com os campeonatos de futebol parados, o crescimento tem a ver com o consumo de files. Porque os cinemas estão fechados, mas também para não gastarem dinheiro a alugar filmes recentes ou a pagar a sua visualização aos fornecedores de TV por cabo, os consumidores têm vindo a optar por usar a Internet e quanto menor o preço melhor.
"Há uns anos, houve uma ignição da pirataria com a procura de canais de desporto, mas na pandemia a procura passou a ser de canais premium de cinema ou de séries", explicou, ao JN, Paulo Santos, diretor da FEVIP, para quem os gigantes como a Google ajudam indiretamente os sites de pirataria.
"Existe um problema muito grave que tem que ver com o sistema de bloqueio destes sites. As operadores nacionais conseguem bloquear este tipo de sites, mas existem entidades e multinacionais que permitem boicotar o bloqueio. Os piratas deixam de usar um domínio bloqueado para utilizar os dessas multinacionais.
Assim, em Portugal, é possível ter acesso a estes sites, apesar de ser ilegal. No fundo, estas multinacionais ajudam a pirataria e até podem ganhar em publicidade com isto", adianta ainda Paulo Santos.
novas tecnologias
Há dezenas de sítios e aplicações publicitadas, quer nas redes sociais quer na Internet, que oferecem serviços de canais de cabo nacionais e internacionais. São os chamados sistemas de IPTV, um método de transmissão de sinal televisivo através da Internet.
Estes sistemas, mais recentes, que provocam milhões de euros de prejuízos anuais às operadoras de TV por cabo, já estão a ultrapassar os "tradicionais" esquemas de "cardsharing", que se traduz na partilha de cartões legais de acesso a televisão paga, por meios informáticos, com diversos utilizadores de boxes adulteradas para o efeito.
A FEVIP estima que haja cerca de 310 mil lares equipados com sistemas piratas. No ano passado, a estimativa era de 300 mil. Ou seja, houve um crescimento de cerca de 3%.
Já a procura de sites de "streaming" aumentou 47%. De acordo com a empresa londrina especializada em pirataria Muso, as tendências consumo de pirataria correlacionam-se de forma estreita com as tendências de conteúdos pagos ou licenciado. Por isso, faz uma comparação entre o crescimento da Netflix, a maior distribuidora legal de conteúdos por "streaming" e o crescimento dos sites ilegais.