Mulher estava em casa abrigo há uma semana depois de pedir ajuda à APAV. Caso foi logo comunicado ao MP, mas informação nunca chegou à GNR.
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O Ministério Público (MP) de Braga não terá avisado a GNR da existência de um processo sobre situações de violência doméstica envolvendo a família de Fernando Lopes ("Guerras") que, anteontem, assassinou um casal a tiro e se suicidou, na freguesia de Pedralva, arredores de Braga. O caso foi comunicado ao MP pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) logo que a mulher do homicida ali apareceu a pedir ajuda, sendo encaminhada para uma casa abrigo. Com antecedentes violentos, o homem continuou na posse de duas armas legais que usava para caçar.
No rescaldo do assassinato, a tiros de caçadeira, do casal João Correia e Olívia Correia, ambos de 58 anos, ao princípio da tarde de anteontem, ficou a saber-se que, há cerca de duas semanas, após um episódio de violência doméstica que incluiu uma ameaça ao filho com uma faca, a esposa do homicida pediu ajuda à APAV. O filho, de maior idade, optou por deixar a casa familiar.
Do Comando da GNR de Braga, além do posto do Sameiro, faz parte o Núcleo de Investigação e Apoio a Vítimas Especificas (NIAVE), vocacionado para o tratamento de casos de violência doméstica. É frequente, também, quando há ameaças e o suspeito possui armas, estas serem apreendidas enquanto decorrer o inquérito crime.
MP foi informado
Nesta situação, segundo informação recolhida pelo JN, por razões ainda por esclarecer o caso não terá passado do MP e era desconhecido da GNR. O JN questionou a Procuradoria-Geral da República mas, até ao início a noite de ontem, não recebeu qualquer esclarecimento sobre o que poderá ter corrido mal.
Sempre que apoia uma vítima de violência doméstica e a encaminha para uma casa abrigo, a APAV comunica, de imediato, o caso ao MP, mesmo que a vítima ainda não tenha formalizado queixa. Segundo o JN apurou, a esposa de Fernando foi logo atendida pelos técnicos e, avaliado o risco, com o acordo da mulher foi definido que a melhor solução passaria pela sua saída de casa e colocação numa casa abrigo, o que aconteceu na semana passada.
O MP foi informado, de imediato, da decisão, assim como dos pressupostos da opção por esta medida de proteção à vítima. Mas não terá ordenado que Fernando Lopes fosse constituído arguido. Também por isso, ninguém foi avisado quando Fernando Lopes teve alta do Serviço de Psiquiatria do Hospital Central de Braga, onde estivera internado entre sexta-feira e segunda-feira (dia do crime).
Um das primeiras coisas que "Guerras" fez foi pegar numa espingarda e ir ter com os cunhados por pensar que eles sabiam onde estava a esposa. Como eles nada disseram, provavelmente porque também não sabiam, pois a localização das casas abrigo é mantida em sigilo, matou-os e suicidou-se.