
Violência durou até fevereiro deste ano, quando o homem foi detido
Agressor está a ser julgado no Porto por violência doméstica sobre a companheira durante 16 anos. Vítima desesperada chegou a tentar suicidar-se.
Foi vítima de violência doméstica durante 16 anos. Agredida, atropelada, insultada, obrigada a dormir na rua e exposta na Internet pelo companheiro que publicou uma foto sua com hematomas nos olhos juntando-lhe o comentário: "é assim que se trata as putas das mulheres". Desesperada, a vítima chegou a tentar suicidar-se. A violência só parou em fevereiro deste ano, depois de o agressor, de 38 anos, ter sido detido e colocado em prisão preventiva. Está agora a ser julgado no Tribunal de S. João Novo, no Porto, por violência doméstica contra mulher e contra o filho, hoje com 16 anos.
De acordo com a acusação da secção especializada em violência doméstica do Ministério Público (MP) do Porto, o casal começou a namorar e a viver junto no Porto, em 2004, altura em que nasceu o filho. Desde então que o técnico de eletrónica maltratava a mulher. Todas as razões serviam. Por ter bronquite asmática, tentava vexá-la, dizendo que sofria de cancro. "Por várias vezes, o arguido e a sua mãe a puseram fora de casa, ficando a mesma a dormir na rua", adianta ainda a acusação.
Quando o filho tinha apenas dois meses, o indivíduo terá atropelado a mulher com o carro, embatendo-lhe nas pernas. Ficou com vários hematomas, mas não foi ao hospital, porque a sogra lhe pediu. A mãe do técnico, que não é arguida, terá proporcionado outra agressão. Quando os três regressavam de um almoço de família, a vítima deu indicações sobre o melhor trajeto a seguir para chegarem a casa. A sogra disse logo que seria espancada pelo marido se ousasse dizer-lhe como conduzir. E foi o que ele fez.
Em 2013, a mulher teve de voltar ao hospital depois de agredida num parque de campismo em Vila do Conde, onde a família passava férias. Dois anos depois, após nova agressão, foi aberto outro inquérito, no qual a vítima voltou a não prestar declarações, por ter medo.
Desesperada, em agosto de 2019 a vítima tentou o suicídio. "Para o efeito, após ter ingerido medicação com bebidas alcoólicas, a ofendida colocou um lenço à volta do pescoço e tentou enforcar-se, tendo sido o filho que a impediu de amarrar o lenço ao teto", adianta o MP.
Fotos no WhatsApp
Um mês depois, novo episódio de violência. O marido usou um martelo para destruir a aliança de casamento e houve mais agressões. O filho alertou a PSP. A vítima teve de ser internada no hospital mas, desta vez, o marido foi detido e impedido de se aproximar dela, embora continuando na casa da família.
Apesar disso, publicou, num grupo da aplicação WhatsApp, uma foto da mulher com hematomas nos olhos e o comentário: "É assim que se tratam as putas das mulheres". Os maus tratos continuaram até que foi ela quem saiu de casa. No entanto, sem condições para sobreviver sozinha, voltou para junto do agressor que continuou a ameaçá-la. Só em fevereiro deste ano, após nova agressão é que o técnico foi colocado em prisão preventiva.
Silêncio arquivou inquérito
A acusação descreve inúmeras agressões e insultos motivados pelo consumo de bebidas alcoólicas por parte do arguido. Na sequência de uma delas, a mulher teve de ser internada no Hospital de Matosinhos e até foi aberto um processo crime que foi arquivado porque a vítima calou-se, com receio do marido. Numa das situações descritas, o homem é acusado de ter escrito no rés do chão do prédio onde habitavam que a mulher era prostituta. Numa ocasião a vítima conseguiu estar 11 meses em casa dos pais, mas acabou por voltar para junto do agressor. Ao fim de dois dias, começaram novamente os insultos.
PORMENORES
Pornografia
O arguido via filmes pornográficos na presença da mulher, dizendo-lhe que as atrizes o satisfaziam e que ela não era capaz de o fazer.
Casa abrigo
A vítima chegou a ser colocada numa casa abrigo, reservada a mulheres vítimas de violência doméstica. Mas acabou por voltar para o marido.
Pistola elétrica
No dia em que foi detido pela PSP, o arguido tinha em seu poder uma pistola elétrica (taser), que usava para ameaçar a vítima com choques elétricos.

