Travado pelo SEF, é suspeito de trazer ilegalmente para Portugal atletas africanos menores. Usava nomes de clubes conhecidos.
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Um suposto agente de futebol que também se apresentaria como recrutador ao serviço de clubes portugueses foi detido pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), em Braga. É suspeito de trazer para Portugal menores que aliciava em África com a promessa de que jogariam em reputadas formações nacionais. Terá burlado também outros jogadores que lhe pagavam milhares de euros para serem colocados em clubes profissionais. Estão em causa crimes de auxilio à emigração ilegal, burla e tráfico de pessoas.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, Luís Gonzaga, 47 anos, de nacionalidade angolana, terá começado a recrutar jovens angolanos há quatro anos. Indivíduos ligados ao futebol local indicavam-lhe jogadores com potencial e, depois de uma primeira avaliação, Luís Gonzaga abordava-os. Apresentava-se como agente de futebol, com contactos privilegiados em clubes como o Famalicão, o Ribeirão, mas também no Trofense, no Varzim ou no Amares.
Conquistados pelo sonho de se tornarem craques no futebol europeu, os jovens, sobretudo com idades entre os 14 e os 21 anos, aceitavam o desafio de viajar até Portugal.
Usou clubes à revelia
Ainda segundo o JN apurou, Gonzaga, que chegou a jogar no Vitória de Guimarães há cerca de 20 anos, também se apresentava como "olheiro" dos clubes ou mesmo responsável pelo departamento de "scouting" de formações portuguesas, usando os nomes desses clubes para convencer as jovens promessas a aceitar supostos contratos. Terá, até, à revelia dos verdadeiros responsáveis do Famalicão e do Ribeirão, usado cartas-convite forjadas, com o logótipo dos clubes, para facilitar a entrada dos atletas em Portugal.
Uma vez em território nacional, a história já era outra. Afinal, os jovens não tinham um contrato assegurado e era-lhes facultada apenas a possibilidade de realizarem treinos com elementos dos respetivos plantéis. Tratava-se de sessões de avaliação, para que o seu potencial fosse aferido por quem verdadeiramente tinha responsabilidades nos clubes e autoridade para contratar. Tudo indica que os líderes das sociedades desportivas nem soubessem as condições em que os jovens tinha sido trazidos.
Se lhes era reconhecido talento, os candidatos ficavam e tinham um contrato. Mas se fossem rejeitados, o intermediário, agora detido pelo SEF, abandonava-os à sua sorte. Pelo que apurámos, não tratava de os levar de volta para África, nem lhes daria condições para viverem em Portugal. Pelo menos quatro denúncias chegaram ao SEF, que começou a investigar o alegado agente.
A investigação, que também abarca outras burlas, permitiu reunir prova suficiente para deter Gonzaga anteontem, na sua residência, em Braga. E ontem o Tribunal de Guimarães libertou-o mediante a prestação de uma caução de cinco mil euros, apresentações periódicas à Polícia e a proibição de sair do país, com entrega de passaporte.