
Gangue tinha sede em Francos e filial no Aleixo
Leonel de Castro/Global Imagens
Trocavam quase diariamente de casa de recuo e de vendedores. Pouco falavam ao telefone e viajavam de táxi, Uber e carros de aluguer para não serem seguidos. Estavam sediados no Bairro de Francos, mas chegaram a ter uma "filial" no Bairro do Aleixo, ambos no Porto.
Apesar dos cuidados, o grupo altamente organizado e hierarquizado foi desmantelado pela PSP, em fevereiro de 2020. Duas mulheres e 18 homens foram acusados pelo Ministério Público (MP) e estão agora a ser julgados no Tribunal do Porto, por tráfico de droga.
Desde 2017, pelo menos, que os arguidos vinham vendendo droga no Bairro de Francos, em Ramalde. E, para isso, montaram uma estrutura com funções bem definidas: vigias, "cozinheiros", transportadores, vendedores, tesoureiro e gestor operacional. As tarefas de cada um variavam conforme as necessidades e o grau de confiança neles depositado, havendo, inclusive, promoções e despromoções.
Segundo o MP, o local de venda habitual era nas imediações dos armazéns de lixo, junto à linha de metro. Vendiam ali heroína, cocaína, haxixe e anfetaminas a consumidores, mas também a revendedores, na sua maioria de fora do Porto, diz a acusação.
Demolição fecha filial
O grupo também chegou a ter um posto de venda no Bairro do Aleixo, em Lordelo do Ouro, conhecido como "o supermercado" da droga da cidade. Mas, com a saída das famílias e a demolição das últimas torres do bairro, fecharam a "filial" e concentraram-se em Francos.
Para despistar as autoridades, o grupo usava várias casas de recuo, onde armazenava e preparava as drogas e guardava o dinheiro do dia. A PSP identificou, pelo menos, seis casas, algumas dos próprios arguidos. Nas outras, pagavam aos ocupantes, em dinheiro ou drogas, para estes colaborarem com o grupo.
O líder raramente era visto no Bairro de Francos. Havia um gestor operacional que lidava com as questões práticas do negócio e o apuro do dia. Só ele é que contactava diretamente com o chefe. Havia também um "cozinheiro-chefe", que supervisionava a preparação e o corte do produto.
Apesar das várias técnicas para iludir as autoridades, o grupo viria a ser desmantelado em fevereiro de 2020. A PSP efetuou várias detenções e apreendeu centenas de doses de droga e mais de 30 mil euros em dinheiro. O Ministério Público deduziu agora acusação contra 20 arguidos, dos quais cinco são reincidentes.
Pormenores
Não telefonavam - Os arguidos só comunicavam pessoalmente ou através das redes sociais e aplicações de mensagens. E usavam linguagem codificada.
Usavam táxis e Uber - Para evitar serem seguidos, deslocavam-se de táxi ou em TVDE, como a Uber. Por vezes, também alugavam ou compravam carros de baixo valor que depois vendiam quando se tornavam conhecidos.
Rede de vigilância - O grupo trocava de vendedores com frequência para iludir a Polícia. E colocava em locais estratégicos do Bairro de Francos uma rede de vigias para monitorizar a chegada de veículos estranhos e eventuais rusgas.
