A suspeita de desvio de donativos, em dinheiro e em bens materiais, destinados às vítimas do incêndio de 17 de junho de 2017, levantada pelo "Expresso", na edição de 28 de julho de 2018, não foi dada como provada pelo Ministério Público. O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, foi informado hoje do arquivamento do processo.
Corpo do artigo
10608099
No documento, enviado pela agência de comunicação da autarquia do norte do distrito de Leiria, o Ministério Público dá conta de todas as diligências tomadas para investigar qual o destino dado a cerca de 181 mil euros angariados por um grupo de empresários chineses e à carga de 19 camiões enviados pela imobiliária Remax, os quais conteriam "material suficiente para equipar 50 casas de banho e 50 cozinhas".
O Ministério Público assegura que os donativos dos empresários chineses foram efetuados através de cheques, entregues em mão a Valdemar Alves, mas depositados posteriormente numa conta da autarquia, criada para o efeito. Contudo, reconhece que o montante total era de 91.639 euros, ou seja, bastante inferior aos 181 mil euros referidos pelo "Expresso". "Verifica-se que, certamente por lapso, ocorreu, por parte da fonte jornalística, duplicação na contabilização de alguns donativos", o que gerou um "empolamento" dos valores, justifica.
"Em suma, da investigação não resultou demonstrado o desvio, por parte da autarquia ou por outrem, de qualquer verba doada - pois todos os cheques recebidos foram depositados em conta, o mesmo sucedendo com os donativos em dinheiro confirmados", refere o Ministério Público, que faz questão de sublinhar a palavra "confirmados" no documento. Quanto ao alegado desvio da carga dos 19 camiões da Remax, a imobiliária considerou um "mal entendido", porque, na realidade, a alusão aos bens doados "não significa que pudessem equipar 50 habitações, como foi referido erroneamente pela nossa CEO, Dra. Beatriz Rubio, em entrevista ao semanário "Expresso"".
O despacho de arquivamento esclarece, no entanto, que na listagem disponibilizada pela Remax diversos artigos estão "insuficientemente" discriminados. "A PJ apurou que o material remanescente entregue pela Remax se encontra em armazém, sendo o seu concreto conteúdo desconhecido por parte de alguns responsáveis pela autarquia, nomeadamente pela vice-presidente [Margarida Guedes], por Telmo Alves [filho de Valdemar Alves] e pelo ex-vereador Bruno Gomes", refere o documento. "Assim, encontram-se no armazém diversos materiais de construção e equipamentos de casa de banho, a generalidade dos quais ainda embalados."
O despacho de arquivamento determina ainda que a autarquia tem de informar o Ministério Público, no prazo de três meses, do destino que vier a ser dado aos donativos depositados na conta solidária, acompanhado por documentos comprovativos.