
Azeredo Lopes
Ivan Del Val/Global Imagens
O ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, deu instruções ao chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) para que as equipas de neutralização de explosivos do Exército se preparassem para intervir, a qualquer momento, porque a Polícia Judiciária Militar (PJM) estava prestes a deitar as mãos ao material de guerra furtado dos Paióis Nacionais de Tancos. Este "achamento" aconteceu semanas depois das instruções do ministro, em 18 de outubro de 2017.
No despacho de acusação proferido pelo Ministério Público (MP) na quarta-feira passada, os procuradores Vítor Magalhães, Cláudia Porto e João Valente, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, consideram que a intervenção do ministro é uma prova de que Azeredo Lopes, acusado de quatro crimes, acompanhava (e até apoiava) a investigação paralela que a PJM levou a cabo, em 2017, depois de o MP ter entregado a titularidade do caso à Polícia Judiciária civil.
No despacho, o episódio das instruções começa "em data não determinada do fim de setembro de 2017", quando o diretor-geral da PJM, Luís Vieira, avisou o tenente-general Martins Pereira, chefe de gabinete do ministro, de que o armamento poderia ser apreendido a qualquer momento e que, aí, seria necessário garantir a presença imediata de pessoal do EOD - sigla de Explosive Ordnance Disposal-, equipa do Exército treinada para neutralizar explosivos.
Segundo o MP, o chefe de gabinete "transmitiu esse pedido de Luís Vieira a Azeredo Lopes", que "tomou assim conhecimento de que as diligências de investigação paralelas à investigação da PJ (...) estavam bem encaminhadas". Ainda segundo o MP, o ministro "deu, então, instruções ao seu chefe de gabinete para alertar o CEME da necessidade de as equipas EOD do Exército estarem preparadas para entrarem em ação a qualquer momento".
Mais indícios
No dia do "achamento", em que não foi necessário detonar explosivos, Azeredo voltou a comprometer-se. Envolveu-se numa troca de mensagens por telemóvel com o deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro, que poderão reforçar que o então ministro soube que a PJM levava a cabo uma investigação paralela à da PJ e à revelia do MP, que é o titular dos inquéritos criminais. "Foi bom: pela primeira vez se recuperou armamento furtado. Eu sabia, mas tive de aguentar calado a porrada que levei. Mas, como é claro, não sabia que ia ser hoje", escreveu Azeredo a Barbosa Ribeiro.
Mas, na verdade, o então ministro já sabia da investigação da PJM há dois meses, segundo o MP. Naquela altura, Luís Vieira reuniu-se com Azeredo e transmitiu-lhe que "não seria o despacho do MP que iria impedir a PJM de fazer diligências e recuperar o material". Mais: terá informado já o ministro da "existência de um indivíduo que tinha subtraído e escondido o material militar", cuja entrega estava "disposto a negociar", na condição de "não ser responsabilizado", afirma o MP.
Azeredo foi acusado de dois crimes de denegação de justiça (um em coautoria com outros arguidos), um de favorecimento pessoal (também em coautoria) e outro de abuso de poderes.
* Com Alexandre panda
