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Associação de Profissionais da Guarda denuncia "intimidação" de alunos feridos em formação sobre uso de bastão extensível. PGR já abriu inquérito. Oficial "Red Man" à frente de averiguação.
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Os guardas provisórios vítimas de agressões durante o curso de bastão extensível, no Centro de Formação da GNR, em Portalegre, estarão a ser chamados individualmente perante superiores hierárquicos havendo relatos de pressões para não apresentarem queixa às autoridades.
A denúncia é feita por César Nogueira, presidente da Associação de Profissionais da Guarda (APG). Ontem, a Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou a abertura de um inquérito criminal ao caso divulgado pelo JN. Também a Inspeção-Geral da Administração Interna já está a investigar o sucedido.
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"O comandante de batalhão foi ao Centro, entrou numa sala de aula onde estava um dos formandos, que ficou ferido num olho e, num tom de chacota, à frente de todos, com uma força intimidatória, disse para não apresentar queixa", contou César Nogueira.
Reuniões individuais
De acordo com informações a que o JN teve acesso, as vítimas de agressão terão sido chamadas para reuniões com o oficial de justiça. O JN sabe também que o segundo comandante-geral esteve ontem, durante a tarde, no Centro de Formação. "Eles não precisavam disso. Os formandos não vão apresentar queixa porque têm medo de chumbar no curso", afirma Nogueira.
O Ministério Público já está a investigar o alegado espancamento dos dez formandos durante uma simulação de combate a alterações da ordem pública em que têm de enfrentar um formador protegido por uma armadura, munidos de um bastão de plástico e usando roupa normal. A armadura é vermelha e dá o nome ao exercício - "Red Man".
Além dos dez alistados que sofreram ferimentos graves, ao ponto de terem sido assistidos em hospitais, o presidente da APG diz saber de outros com ferimentos ligeiros. "Isso acontece neste tipo de cursos. Mas, no caso em concreto, foram agressões sem motivo nenhum", afirma.
"Red Man" a averiguar
Segundo apurou o JN, foi aberto pela GNR pelo menos um processo de averiguações sobre a formação, sendo que o instrutor nomeado, um alferes, também terá vestido a armadura vermelha", embora, ao que tudo indica, não tenha estado envolvido no episódio em causa.
"Ao contrário do que diz o Comando Geral, em 13 de novembro não foi aberto nenhum processo de averiguações, mas sim vários processos de acidente em serviço individual, a cada formando que foi ferido e que foi ao hospital. O de averiguações, se já foi aberto, foi após a notícia", refere Nogueira. O JN questionou o Comando Geral da GNR mas não obteve resposta em tempo útil.
Pormenores
BE questiona Governo
Considerando que as agressões aos formandos da GNR "são de uma gravidade extrema", o BE perguntou ao Ministério da Administração Interna (MAI) "que medidas concretas tomou para apurar o sucedido" e se "os agressores se encontram ainda a ministrar formação ou foram suspensos de funções". O BE quer saber ainda se "pondera o MAI encontrar uma nova forma de selecionar os formadores" e "garantir que o recurso à violência e à agressão não voltará a ocorrer, neste ou noutros cursos de formação das forças e serviços de segurança, nomeadamente da GNR".
Início na preparação para o Euro
A primeira formação de bastão extensível, na PSP, aconteceu em 2004 e visou preparar os agentes para o Europeu de Futebol. "Desde então não foram feitas muitas mais formações", refere Paulo Rodrigues.
"Red Man" para aprender
A formação com recurso a um "Red Man" serve, explica Paulo Rodrigues, para os instruendos aprenderem onde e como bater com o bastão extensível, de forma a controlar, mas não causar ferimentos graves no agressor.
