Ministério Público de Matosinhos entregou inquérito a unidade especial de crimes violentos. Vítimas dizem ter sido perseguidas até casa e que vivem clima de medo constante.
Corpo do artigo
Ameaças, esperas à porta de casa, invasão de instalações, pressão contra estivadores em formação, perseguições noturnas e avisos de futuras agressões deixados nos para-brisas dos carros. É deste conjunto de crimes, alegadamente praticados num contexto de greve, que se queixam estivadores do porto de Leixões e que a Judiciária está a investigar.
A greve dos estivadores, que se iniciou no início do mês passado e está a paralisar, sem solução negocial à vista, o porto de Setúbal, não está a bloquear os terminais marítimos do resto do país. Mas, de acordo com informações recolhidas pelo JN, os estivadores de Leixões que se recusam a aderir pelo menos à greve às horas extraordinárias estão a ser ameaçados. O JN sabe que foram apresentadas várias queixas-crime tanto na Polícia Marítima, como na PSP e na GNR. O Ministério Público de Matosinhos decidiu delegar a investigação numa unidade da Polícia Judiciária especializada em crimes violentos.
As ameaças terão começado em 2016, quando surgiu uma das primeiras grandes greves de estivadores de Lisboa, Setúbal e Figueira da Foz. Segundo os ameaçados, a imposição de um clima de medo era destinada a forçar trabalhadores a aderir à paralisação, apesar de estes desejarem trabalhar. As ameaças mais recentes terão o mesmo objetivo.
"Gorilas da noite"
"Os dirigentes do sindicato dos estivadores de Leixões, os administradores da empresa de trabalho portuário e os novos trabalhadores que se recusam a aderir à greve foram alvos de ameaças e são perseguidos. Houve uma espera à porta de casa de um diretor da empresa de trabalho portuário de Leixões, feita por desconhecidos, com ar de "gorilas da noite". Um dirigente do sindicato dos estivadores de Leixões foi agredido e houve também ameaças escritas em papel colocado no vidro da viatura de um trabalhador que furou a greve ao trabalho extraordinário", contou ao JN um dos trabalhadores ameaçados.
Ainda segundo as várias queixas apresentadas junto das autoridades, um estivador que estava a laborar num pórtico foi ameaçado, a fim de ser levado a desistir da função, considerada especializada e essencial.
"Há quem queira dominar Leixões pela via da intimidação, coagindo os estivadores a alinharem com as greves decretadas por Lisboa e forçando os trabalhadores novos a aderir ou, pelo menos, a não se filiarem no sindicato dos estivadores de Leixões", afirmou a mesma fonte.
Ainda de acordo com o que foi possível apurar, responsáveis do sindicato do porto de Leixões já enviaram para os grupos parlamentares da Assembleia da República um documento onde explicam as tensões existentes e as ameaças, pedindo a intervenção dos deputados.
Recentemente, o porto de Leixões recebeu 700 automóveis provenientes da Autoeuropa, que seriam destinados ao porto de Setúbal. Há mais de 10 anos que tal não acontecia. Na altura, os responsáveis de Leixões disseram ter capacidade para acolher pelo menos cinco mil carros.
Papéis deixados nos carros das vítimas
Reivindicações
A paralisação em dois terminais de Setúbal teve início no dia 5 de novembro, quando 90 estivadores eventuais iniciaram um protesto contra a precariedade laboral praticada na empresa Operestiva, detida pelos gestores de terminais Yilport e Navipor.
Necessidades especiais
As empresas de estiva recrutam diariamente trabalhadores eventuais a empresas de trabalho portuário, ao abrigo de um regime especial, dado que o movimento de cargas e de navios é variável.
Precariedade
O presidente do Sindicato dos Estivadores (-), que promoveu a greve, acusou as empresas portuárias de protelarem a precariedade e a perseguição a alguns trabalhadores.
Números
No porto de Leixões, existem 207 estivadores a trabalhar diariamente na carga e descarga de navios, dos quais dois terços têm contrato de trabalho regular. A Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores Portuários, que junta oito sindicatos, diz que o conflito laboral no porto de Setúbal foi promovido por um sindicato com outro fim que não a situação dos trabalhadores portuários.