Não param de aumentar os casos de violência contra idosos. Só a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) tem registado, "nos últimos anos", um acréscimo de 30% de denúncias.
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No ano passado, foram relatadas três situações por dia. Mas à PSP chegaram muitas mais, uma média de 44 casos por dia. Segundo a APAV, na maior parte dos casos, o agressor ou é um filho ou um cuidador, o que leva a crer que "as cifras negras são bem maiores do que se possa imaginar".
Os dados da PSP, a nível nacional, são negros. Nos primeiros três meses do ano, foram abertos 3684 processos de violência contra idosos, tendo sido identificadas 3778 vítimas. No ano passado, a PSP sinalizou 16 206 idosos vítimas de violência, o que corresponde a uma média de 44 idosos por dia. Foram abertos 15 997 processos. O que leva a Procuradoria-Geral da República (PGR) a ter uma "particular" atenção sobre o problema.
"A violência contra idosos é uma área de intervenção prioritária do Ministério Público, sendo por conseguinte uma realidade que merece particular atenção por parte da investigação criminal nos processos concretos", garante a PGR.
Dependência do agressor
O problema deverá ser ainda maior do que mostram as estatísticas. "Acreditamos que o aumento do número de denúncias se deve à maior consciencialização da sociedade para o problema, devido a uma maior visibilidade desta temática. Ainda assim, não deixa de ser um dos fenómenos de violência mais escondida, uma vez que ocorre sobretudo no seio da família ou pelos cuidadores. São situações em que o idoso está dependente do agressor", explica Marta Carmo, da APAV, cuja linha de atendimento, em 2018, recebeu 926 denúncias de casos de violência contra idosos.
Já a Linha do Cidadão Idoso, do Provedor de Justiça, teve 737 denúncias nos primeiros três meses do ano. Entre 2017 e 2018, passou-se de um total de 2465 para 2557 chamadas, a maioria precisamente referentes a violência doméstica e a maus-tratos na família.
"No ano de 2017, nas situações que chegaram ao Serviço SOS Pessoa Idosa, 50% dos agressores são filhos das vítimas. Este valor é um forte indicador de que o maltrato intrafamiliar é cada vez mais frequente", conclui-se no mais recente relatório da Fundação Bissaya Barreto, socorrendo-se precisamente de números da APAV, segundo os quais, entre 2013 e 2015, registaram-se 1777 casos de violência intrafamiliar".
"Significa que, em média, houve mais de 592 casos por ano, o que representa, pelo menos, um caso por dia em que os pais são vítimas de violência por parte dos próprios filhos", reforça-se no Relatório de Atividades 2018 do Serviço SOS Pessoa Idosa.
Segundo Marta Carmo, da APAV, essa realidade explica porque muitos casos não são denunciados, ou porque o idoso não quer criar problemas a quem cuida dele ou porque "as pessoas olham para o lado". Por isso, no Dia Mundial da Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa, a APAV pede que se ataque o problema nas causas e, junto com os idosos, se encontrem medidas de prevenção multidisciplinares.
Pormenores
3850 processos com idosos como agressores
Nesse total de processos, abertos no ano passado pela PSP, foram identificados 3808 idosos suspeitos de serem agressores. No primeiro trimestre deste ano, já foram identificados 1011 agressores idosos.
115 casos referentes a violência doméstica
Denunciados, no ano passado, através da Linha do Cidadão Idoso da Procuradoria-Geral da República, referentes a situações de violência doméstica ou maus-tratos sobre idosos.