
Amin Chaar / Global Imagens
Desde o início do ano, a violência doméstica já causou 17 vítimas mortais do sexo feminino. Os homicidas foram maridos, namorados, ex-companheiros ou pais. A mais recente foi morta pelo filho.
Há muito que Emília Simões se refugiava na casa da vizinha, no bairro Alberto Sampaio, na Póvoa de Varzim. A mulher, de 79 anos, fugia do filho. Só contava aos mais próximos: Paulo Jorge batia-lhe. Ao final da noite de anteontem, o homem, de 45 anos, entregou-se na PSP. Muito perturbado, só dizia que tinha assassinado a mãe. Não tinha morada, nem documentos. Só uma faca na mão. Foi transportado ao Hospital de São João, no Porto. Uma hora mais tarde, sem saber de nada, a irmã foi à esquadra. Queria retirar uma queixa por violência doméstica, feita há quatro dias. Mas, para Emília, já era tarde. Morreu com sete facadas nas costas, tratando-se do 17.º feminicídio desde o início do ano.
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Ao JN, Lídia Silva, vizinha do lado, confirmou as fugas, após agressões. A última aconteceu na última sexta-feira. Mãe e filho viviam ali há anos. Paulo "tinha problemas com o álcool", "falava pouco" e no outro dia "até desmaiou na rua", dizem os vizinhos, que suspeitam de perturbação mental. As agressões deviam-se a discussões porque Paulo Jorge exigia constantemente dinheiro para comprar álcool.
Cansada de ver o sofrimento da mãe, Emília, a filha foi à esquadra, na sexta-feira ao fim da tarde. Apresentou queixa contra o irmão. Mas voltou apenas volvidos quatro dias. Eram 22 horas. Queria retirar a queixa. Pensava que o irmão, assustado, iria parar e que tudo se acalmaria.
O agente lembrou-se do homem que estivera ali, uma hora antes, dizendo que tinha assassinado a mãe à facada. "Não dizia coisa com coisa". Muito perturbado, foi transportado pelos Bombeiros da Póvoa até ao Hospital de São João, acompanhado pela PSP.
Estabelecida a relação de uma história com a outra, a PSP foi a casa de Emília. A mulher estava em paragem cardiorrespiratória. Ainda foi levada ao hospital, mas acabou por morrer. Ao que o JN apurou, a mulher estava de barriga para baixo e tinha sete facadas nas costas, alegadamente com faca de cozinha.
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Ninguém ouviu
"Não ouvi nadinha! Nem gritos, nem nada. Eram nove e pouco, fui levar o lixo e a porta de casa deles estava aberta. Não liguei, confesso. Depois, só quando veio a Polícia, já às 23 horas, é que percebi", contou uma vizinha, que preferiu não se identificar.
Apenas um vizinho, que passeava o cão, o viu andar, a passo ligeiro, na direção do centro da cidade. Pareceu-lhe que levava uma faca na mão. Afinal, Paulo ia na direção da esquadra.
"Ainda estou em choque", disse outra vizinha. "É o vinho, vês?", atirava outra. O homem estava desempregado há algum tempo. Tinha sido empregado de mesa. "Bebia um bocadinho, mas nunca achei que fosse mau para a mãe", diz, resignada.
"Ela fugia, muitas vezes, para aqui, porque ele lhe batia. Ainda na sexta-feira cá tinha estado"
Pormenores
Encontrada pela PSP - Emília Simões terá sido esfaqueada pelas costas, em casa, entre as 20 e as 21 horas. Não terá tido tempo para gritar. Só pelas 23 horas a PSP conseguiu localizar a mulher, já em paragem cardiorrespiratória.
Internado - O filho, que à PSP confessou o crime e levava, na mão, a arma usada, foi detido pela PJ já no hospital. Continua internado sob detenção, no serviço de psiquiatria.
Queixa há quatro dias - Na passada sexta-feira, Paulo Jorge terá agredido a mãe. Emília fugiu para a vizinha. Ele veio atrás. Dizia sempre que não lhe fazia nada e que era ela que fugia sem motivo. A filha decidiu apresentar queixa na PSP.
