Brasileiro Leonardo Serro dos Santos tem nacionalidade portuguesa e controlava tráfico de cocaína a partir de Cascais. Foi detido esta semana, em Abu Dhabi.
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O líder da célula europeia do Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior e mais perigosa organização criminosa brasileira, viveu nos últimos anos em Portugal. A partir da Parede, em Cascais, Leonardo Serro dos Santos controlou a chegada ao país de milhares de quilos de cocaína. O narcotraficante brasileiro, que também tem nacionalidade portuguesa, esteve sempre vigiado pela Polícia Judiciária (PJ) até fugir para o Dubai e, nesta semana, ter sido detido nos Emirados Árabes Unidos.
A dupla nacionalidade funcionou como um livre-trânsito para Leonardo Serro dos Santos. Cercado pela Polícia Federal Brasileira, o membro do PCC refugiou-se em Portugal e, com todos os direitos de um cidadão nacional, apresentava-se como empresário de jogadores. Mas nunca lhe foi conhecido um negócio no mundo da bola. Em outubro de 2019, também criou uma empresa dedicada ao "comércio a retalho e por grosso, importação e exportação de produtos alimentares, bebidas, tabaco e máquinas-ferramentas". Com sede em Oeiras e um capital social de 50 mil euros, a empresa tinha ainda como setores de atividade a construção civil, a restauração e eventos.
Detido e libertado no Brasil
Leonardo Serro dos Santos, conhecido por "Carioca", também não terá feito muitos contratos com esta sociedade unipessoal e a sua principal atividade foi sempre o tráfico de cocaína. Informações recolhidas pelo JN indicam que era a principal figura do PCC em Portugal e um dos principais elementos do cartel brasileiro no continente europeu, o destino privilegiado dos navios com contentores que escondiam toneladas de cocaína controladas pelo PCC.
A presença do luso-brasileiro, de 47 anos, no nosso país foi sempre monitorizada pela PJ que, contudo, nunca avançou para a sua detenção. Em permanente contacto e sintonia com a Polícia Federal brasileira, a PJ aguardou pela conclusão da investigação então em curso e contribuiu para que "Carioca" fosse detido, em fevereiro.
Numa das suas viagens ao Brasil, Leonardo Serro dos Santos foi surpreendido pela operação "Turfe", coordenada pela Europol, na sequência de mais de dez toneladas de cocaína apreendidas, desde setembro de 2020, na Bélgica, Brasil, Itália, Países Baixos e Espanha. Ficou em prisão preventiva, mas o deferimento de um habeas corpus - medida judicial a pedir a sua libertação imediata - permitiu que saísse da cadeia e regressasse a Portugal.
A nacionalidade portuguesa impedia que Leonardo fosse extraditado para o Brasil, mas mesmo assim, logo em março, o líder do PCC preferiu fugir para o Dubai. Por ali, manteve a coordenação da logística para o envio de grandes quantidades de cocaína para a Europa, usando vários portos marítimos, incluindo Setúbal e Leixões. Mais uma viagem, desta vez ao Catar para ver o Brasil jogar no Mundial, com passagem por Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, voltaria a ditar a sua detenção.
Presos criaram cartel internacional
O PCC nasceu em 1993, numa prisão de São Paulo, no Brasil, e estima-se que, hoje, integre cerca de 30 mil elementos. Os milhões de euros obtidos com o tráfico de cocaína financiam todo o tipo de crimes de uma organização com métodos muito violentos. O PCC está presente em toda a América do Sul e usa Portugal para dominar a Europa. "As autoridades portuguesas têm a certeza que o PCC está implantado em Portugal, pelo menos há três anos", referiu, no último "Alegações Finais", programa do JN, o advogado Ricardo Pinto.
Foi ver o Mundial
Leonardo Serro dos Santos nunca foi incomodado pela Polícia do Dubai e, por isso, não teve qualquer receio de deslocar-se ao Catar para assistir a um dos jogos do Brasil no Mundial de Futebol, que ontem acabou.
Mandado da Interpol
Antes de voltar ao Dubai, passou por Abu Dhabi e foi na capital dos Emirados Árabes que seria detido, no cumprimento de uma "red notice" da Interpol.
Extradição
As autoridades brasileiras já requereram a extradição do "Carioca" e aguardam a decisão dos tribunais de Abu Dhabi.