Coronel Amândio Marques foi suspenso de funções como medida de coação por envolvimento na recuperação encenada das armas furtadas de Tancos.
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O coronel Amândio Marques, diretor nacional da Investigação Criminal da GNR, é o mais recente arguido do processo relacionado com o furto e posterior recuperação das armas do quartel de Tancos. O oficial da Guarda, que foi obrigado por um juiz a suspender funções, terá tido conhecimento do conluio entre o Núcleo de Investigação Criminal (NIC) da GNR de Loulé e a Polícia Judiciária Militar (PJM) que culminou na recuperação encenada do arsenal. Mas não denunciou o plano. É o 24.º arguido do processo.
Ao JN, a Procuradoria-Geral da República (PGR) disse apenas que "o inquérito encontra-se em investigação e está em segredo de justiça", mas confirma que este ganhou, nos últimos dias, mais um arguido. Não revela, contudo, ao contrário do que fez, por exemplo, com o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, a identidade do militar envolvido, que esteve rodeada de secretismo. "[O processo] tem 24 arguidos constituídos", diz, simplesmente a PGR.
No entanto, as informações recolhidas pelo JN foram confirmadas pela própria GNR. "No âmbito do denominado processo de Tancos, o Comando da GNR foi notificado, pelo Ministério Público, da constituição de arguido do coronel Amândio Marques", refere fonte oficial, acrescentando que o oficial foi alvo de "aplicação da medida de coação de suspensão de funções".
O JN sabe que o coronel Amândio Marques abandonou o cargo no início desta semana, tendo sido substituído, de forma interina, pelo tenente-coronel Diogo Dores. "A GNR remeteu esta situação à Inspeção-Geral da Administração Interna", informa, ainda, o Comando Geral da Guarda.
Superior de outro arguido
O coronel Amândio Marques era o superior hierárquico do tenente-coronel Luís Sequeira que, à data do desaparecimento das armas dos paióis de Tancos, liderava a Secção de Informação e Investigação Criminal de Loulé. Este oficial também foi constituído arguido no mesmo processo, em abril deste ano. Mesmo depois de ter garantido, na comissão de inquérito ao furto das armas militares, no Parlamento, que desconhecia a encenação para recuperar o material desaparecido. "Não me recordo em concreto, mas que eu tenha recebido alguma informação, não. O que pudesse haver era dos órgãos de Comunicação Social", afirmou.
Porém, para o Ministério Público, o tenente-coronel Luís Sequeira autorizou a colaboração da GNR com a PJM na recuperação do material roubado e é suspeito da prática de crimes de associação criminosa, denegação de justiça e prevaricação e falsificação de documento. O coronel Amândio Marques terá tido acesso à mesma informação e, tal como o subalterno, nada disse.
Arguidos são, ainda, o chefe do NIC da GNR de Loulé, o sargento Caetano Lima Santos, e outros dois elementos do NIC, Bruno Ataíde e José Gonçalves. Todos são suspeitos de colaborar no esquema montado para recuperar as armas furtadas. E todos respondiam às ordens de Luís Sequeira e Amândio Marques. Os dois arguidos mais recentes são Azeredo Lopes e um técnico do laboratório da PJM.
Arguidos
Caso abalou Governo, GNR e Polícia Militar
Entre os 24 arguidos estão seis elementos da Polícia Judiciária Militar, três militares da GNR, um antigo fuzileiro e Azeredo Lopes, ministro da Defesa que se demitiu, em outubro de 2018, devido à pressão política resultante do escândalo de Tancos.
Azeredo Lopes foi arrolado pelo Ministério Público na semana passada e é suspeito de ter tido conhecimento de toda a encenação montada na recuperação das armas furtadas em Tancos, mas de nada ter feito. O antigo governante está indiciado do crime de denegação da justiça e prevaricação, que nega ter cometido. "Absolutamente inexplicável", reagiu.
Pormenores
1500 munições
Estão ainda por encontrar 1500 munições de 9 mm que faziam parte do armamento furtado. Das caixas recuperadas, uma não constava do inventário inicial.
Granadas e explosivos
Entre o material furtado dos paióis havia 44 armas de guerra, granadas de mão, granadas-foguete anticarro, granadas de gás lacrimogéneo e explosivos.
Meses escondidas
117 dias passaram entre o furto e recuperação das armas. O assalto aconteceu em 28 de junho de 2017, da base militar e foram encontrados na Chamusca em 18 de outubro.
Governo ilibado
A Comissão de Inquérito excluiu qualquer responsabilização direta do ex-ministro da Defesa e de António Costa.