
MIlitão tem hoje 51 anos de idade
Arquivo/EPA
Seis empresários de férias no Brasil foram mortos há 20 anos a mando de amigo. Crime macabro só rendeu quatro mil euros ao grupo.
Há 20 anos, seis empresários portugueses desembarcavam no Aeroporto Internacional de Fortaleza, no Brasil, para umas férias. O amigo Luís Militão havia-lhes prometido diversão e companhia feminina, mas era uma cilada. Os seis acabariam mortos nessa mesma noite. Foram espancados, torturados e enterrados, alguns ainda vivos, nas traseiras de um bar na praia do Futuro.
Vinte anos depois, Militão, o mentor da chacina, cumpre pena numa prisão do estado do Ceará. Foi condenado a 150 anos de prisão. Porém, em 2002 a pena máxima de prisão no Brasil era de 30 anos. Nestas duas décadas, o português, hoje com 51 anos, tirou dois cursos e trabalhou regularmente no presídio. Segundo o "Diário do Nordeste", esta aplicação já lhe permitiu abater dois anos e quatro meses à pena.
Só quer ser esquecido
Antes do fim de 2024, o português cumprirá 5/6 da pena e já pode pedir para ingressar no regime semiaberto, o que lhe permitiria sair da prisão durante o dia para trabalhar ou estudar. Vários órgãos de comunicação já tentaram entrevistar o "Monstro de Fortaleza", mas Militão sempre recusou. Só quer ser esquecido, clama.
Quando os seis portugueses desembarcaram em Fortaleza já tinham o destino traçado. A cova que iria ser a sua sepultura já estava aberta nas traseiras do bar de praia explorado por Militão. Mal chegaram, os cúmplices invadiram o espaço e desataram a espancá-los e torturá-los até que revelassem os códigos dos cartões bancários. Alguns foram mortos, outros foram enterrados vivos. Não sobreviveram mais que algumas horas em solo brasileiro.
Crime só rende quatro mil euros
O português e os cinco cúmplices estimavam lucrar mais de 40 mil euros com o dinheiro e os cartões dos empresários, mas o crime só rendeu pouco mais de quatro mil. Militão ficou com 15 mil reais (2400 euros); os outros cinco dividiram 10 mil reais, o que deu 323 euros para cada um.
O dinheiro era pouco e nem sequer tiveram muito tempo para o gastar. Os familiares dos empresários alertaram para o seu desaparecimento e a polícia brasileira foi no seu encalço. A carrinha que os apanhou no aeroporto tinha sido alugada no nome de um dos assassinos. Este foi detido e confessou. Os cúmplices seriam presos pouco depois.
A 23 de agosto, Militão foi preso no Maranhão. Inicialmente, ainda tentou fazer-se passar por vítima e disse que estava a ser chantageado, mas depois acabou por admitir que tinha sido ele a planear tudo. "Sou um monstro!", exclamou.
Bom comportamento
Estudo e trabalho dão dias de prisão cumpridos aos presos
Segundo a legislação brasileira, os presos ganham dias de cadeia cumpridos caso trabalhem ou estudem no estabelecimento prisional. Por cada três dias de trabalho, ganham um dia extra de pena cumprida. Por cada 12 horas de frequência escolar - presencial ou à distância, desde que certificada - o preso ganha mais um dia. E, se conseguir completar um ciclo de ensino, os dias ganhos são bonificados num terço. Todavia, se entretanto o preso for condenado por uma falta grave, pode perder um terço de todo o tempo ganho.
Cronologia
12 ago. 2001
Os seis amigos aterram em Fortaleza para uns dias de férias. Poucas horas depois, seriam todos mortos num bar na praia do Futuro.
24 ago. 2001
Os cadáveres dos portugueses são desenterrados da esplanada do bar. Militão havia sido preso dois dias antes e confessara o crime.
20 fev. 2002
Militão e os cinco cúmplices são condenados pelo tribunal a penas entre os 120 e os 150 anos pela morte dos seis portugueses.
2024
Militão completará 5/6 da pena máxima. Poderá pedir para cumprir o resto da pena em regime semiaberto, só indo dormir à prisão.
