Adélia Viana, de 72 anos, matou a filha, Manuela, de 42, e suicidou-se, por não conseguir suportar mais os seus acessos de violência e destruição. Terá anunciado até o que iria fazer, ao marido, Manuel, octogenário, que não se terá apercebido do que estava a acontecer.
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Tudo se passou na casa onde moravam, em Moreira da Maia, na manhã de quarta-feira. Uma intoxicação com medicamentos terá sido a causa de ambas as mortes, o que ainda será confirmado pelas autópsias.
Manuela sempre viveu na casa dos pais, naquele apartamento do rés do chão, direito, do número 121 da Rua Luís de Camões. Aqui, nem sempre o ambiente era tranquilo, antes as discussões entre mãe e filha eram frequentes e notadas pelos vizinhos. Os pedidos constantes de dinheiro feitos por Manuela à mãe seriam o principal motivo das discussões que, muitas vezes, acabavam com mobílias e objetos destruídos.
A filha enfrentava, desde sempre, uma doença mental, que a impedia de trabalhar, mas que não lhe limitava a autonomia. Frequentava os cafés da zona, participava em convívios com os amigos e mantinha as rotinas diárias. Aliás, ao JN, o dono de um estabelecimento existente na urbanização de Moreira da Maia contou que Manuela lhe confessou, um dia antes da morte, que a relação com a mãe estava mais serena.
"Vinha sempre à mesma hora tomar café e um copo de água. Nos últimos dias, andava mais tranquila e disse-me que estava de bem com a mãe", relatou o comerciante, pedindo para não ser identificado.
Também por isso a morte das duas mulheres foi um choque para todos. "Falava-se que a filha já tinha ameaçado de morte a mãe por causa do dinheiro, mas nunca pensámos que isto pudesse acontecer", referiu, ao JN, a vizinha Albina Moreira. Outros residentes confirmaram o rumor das ameaças de morte, mas mostraram-se, igualmente, surpreendidos com o desfecho fatal de um drama familiar conhecido por muitos.
Adiou dia da limpeza
Adélia era, aos 72 anos, reformada de um emprego na Função Pública. Manuel, com mais de 80 anos, goza a aposentação de um trabalho como engenheiro. Os pais de Manuela tinham vários problemas de saúde, que lhes dificultavam a mobilidade, e contavam com o auxílio de uma vizinha nas limpezas domésticas. Uma vez por semana, às quartas-feiras, a mulher deslocava-se ao apartamento da família Viana.
Porém, na terça-feira, a empregada recebeu um telefonema de Adélia a adiar para o dia seguinte as limpezas. Não justificou a alteração. Ao marido, Adélia ainda terá tentado comunicar a intenção de acabar com a vida da filha e depois com a sua. No dia seguinte, Manuel encontrou-as mortas.
No 121 da Rua Luís de Camões ninguém ouviu gritos, portas a bater ou móveis a serem destruídos, como acontecia por vezes. O silêncio da urbanização só seria quebrado pelas 11.30 horas, com a chegada das ambulâncias do INEM e da GNR. O alerta foi dado pelo 112 e o socorro foi prestado, de imediato, pelas equipas de duas viaturas médicas de emergência e reanimação que só confirmaram os óbitos. Os bombeiros de Moreira da Maia nem sequer foram acionados.
Outros casos
Atirou filho ao poço
No início do mês, em Cabanelas, Mirandela, Fátima Martinho, de 52 anos, atirou o filho, de 17 anos e autista, para o fundo de um poço. Depois, tentou suicidar-se, mas foi impedida por um familiar. O caso terá sido provocado por um esgotamento da mulher.
Mata pai com machado
Pedro Daniel Ribeiro tinha 16 anos quando, em julho de 2019, matou o pai, Adélio Ribeiro, em Pereira, Barcelos. Atacou-o à machadada na cabeça, peito, pernas e órgãos genitais quando este estava a dormir na cama do quarto. Esta semana, foi condenado pelo Tribunal de Braga a 17 anos de prisão.